sábado, 31 de outubro de 2015

Psicologia e Mediunidade.



Leopoldo Balduino (em "Psiquiatria e Mediunis- mo") faz uma comparação muito interessante entre as personalidades da Madre Tereza e do conhecido paciente do Freud, Schreber, para mostrar a diferença entre um quadro psicótico e o de alguém que já atingiu uma elevação espiritual. Isso porque, como ele diz, a mediunidade não deixa de ter certas manifestações estatisticamente “anormais”, que alguns enquadrariam como diagnóstico psicopatológico.
Entretanto, ele diz que um fator diferencial importante é o humor: o humor delirante é angustioso, opressivo, distorcido da realidade pela projeção. A atmosfera psíquica é de alienação mental. O humor do extático, por outro lado, ao vivenciar as realidades dos elevados estados da alma e planos espirituais é o oposto: alegria, amor universal, desprendimento, grande claridade dos processos mentais.

Outro fator importante é o comprometimento com as atividades produtivas e com a realidade: a personalidade delirante é ensimesmada, enquanto a iluminada é desprendida e caridosa.

Outra distinção que ele aponta é a relação entre o eu e os processos inconscientes: o saudável seria as portas do inconsciente estarem mais ou menos fechadas, de modo que seu material irrompe indiretamente na consciência (através dos sonhos, produções artísticas, atos falhos). Nos casos de psicoses, este material irrompe com violência e compulsividade, subjugando o Eu que acaba por atribuir o material – erradamente – como proveniente da realidade exterior.

Entretanto, estágios de grande evolução espiritual possuem a característica de uma maior ou menor abertura das instâncias do inconsciente – mas neste caso o ego já é suficientemente forte para integrar e assimilar este material, controlar os impulsos menos construtivos, solucionar conflitos e traumas, etc.

Deste modo, o caminho da resignação é mais do que São: trata-se de poderosa fórmula para fortalecer o psiquismo e elevar o Eu acima de suas próprias imperfeições, capacitando-o para lidar com seu egoísmo, orgulho e pequenez. São justamente a gratidão, o perdão, a caridade que traduzem os impulsos criativos, de luz e de crescimento que jazem no inconsciente.

Agradecer a dificuldade que nos permite crescer é diferente de, masoquistamente, se colocar em situações repetidas de sofrimento. Agradecer quem nos desacredita ou nos ataca é compreender e aceitar a dificuldade do outro – e não simplesmente reprimir a raiva ou se julgar superior, onipotentemente.

A psicologia atual caminha neste sentido, a passos lentos mas firmes. Em outros termos, até a psicanálise mais freudiana está compreendendo atualmente o inconsciente como um reservatório de “algo” que impulsiona para o futuro, além de um depósito de materiais passados. Caminhamos no sentido da compreensão daquilo que já nos foi mostrado há dois milênios.

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