quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Desgaste no Casamento



O tempo passa, a relação fica monótona, mas falta coragem ou para melhorar a situação ou perceber que um cada deve tomar seu próprio rumo sozinho
Sílvia Zoche
Repórter


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Querer agradar ao outro, planejar o futuro, trocar idéias sobre diversos assuntos, dar gargalhadas, ajudar nos momentos difíceis, pensar no outro sempre que surgir uma brecha. Estas e outras atitudes são comuns em casais - de namorados ou casados - que se gostam e que transformam o corriqueiro em algo diferente, agradável.

Vem o casamento, os dias passam e alguns casais deixam a rotina tornar-se fatigante. As brigas aumentam, a correria do dia-a-dia impede os afagos e o "olho no olho", a vontade de ficar junto perdem a graça, mas os dois vão levando a vida e se acomodam com a situação. Não há uma tentativa de conversa sobre o assunto ou, se existe, ambos não têm coragem de seguirem seu rumo sozinhos.

Apesar da situação ser comum entre os casais de hoje em dia, que acabam deixando a rotina tomar conta do relacionamento, este não é o caso da dona-de-casa, Cláudia*, que morou junto com João*, por 14 anos, e se separou há três meses como uma forma de salvar o relacionamento. "Por sete anos, moramos só nós dois. Depois, foram mais sete morando com os irmãos dele", conta.

Foi neste período que os problemas começaram, já que dividir o espaço com outras famílias nem sempre é fácil, e as discussões aparecem com freqüência. "Ele pedia para eu parar de brigar com os irmãos dele e disse que se fosse pra continuar assim, era melhor a gente se separar. Só que ele não acreditou que eu fosse fazer isso", conta Cláudia.

Ela deixa claro que os problemas não partiam somente dela. "Eu comprava as coisas e tinha que esconder, porque eles acabavam com tudo", relata lembrando um dos entraves responsáveis pelo fim do seu casamento.

Ela levou a filha de oito anos junto com ela, mas o casal não deixou de conversar depois da separação. "Eu acho que a gente pode voltar. Se eu tivesse ficado lá, a gente ia ser inimigo". Para isso, João tem que mudar para casa onde Cláudia está. "A casa que ele mora é herança de família. Onde eu moro, pago aluguel e o João tem medo de não ter condições de pagar a conta e que os irmãos não deixem ele voltar depois, caso isso aconteça", diz.

E fica cada um do seu lado, tocando a vida, mas sem deixar de se ver. "Ele é muito orgulhoso. Não dá o braço a torcer", conta Cláudia, que ainda é apaixonada pelo marido.

A atitude de Cláudia para salvar o relacionamento não é fácil e muita gente não tem coragem de fazer o mesmo e acaba mantendo o casamento por comodismo, por medo de ficar sozinho, por problemas financeiros e até pelos filhos que, muitas vezes, já perceberam as angústias dos pais.

A ACESSA.com procurou um especialista para ajudar quem passa pela situação. Veja algumas dicas importantes para ajudar a perceber se a sua relação está precisando de alguns cuidados especiais e se o casal não está deixando a vida passar.

*Os nomes foram trocados para preservar a identidade dos entrevistados

Opinião do profissional
O sexólogo, psiquiatra e psicoterapeuta Octavio Viscardi (foto abaixo) ressalta que tudo depende mesmo de sentar e conversar. "Discutir a relação é importante sim". Viscardi fala mais sobre o assunto. Acompanhe a entrevista.

ACESSA.com - Por que um casal, mesmo sem amor, continua junto? Quais os motivos que o senhor aponta?

Viscardi - Acho que uma das principais causas é não ter o sentimento que está só, o sentimento de que está separado. É uma coisa que pesa muito. Tem um grande número de casais em que as pessoas já não são realmente casadas, são separadas fisicamente, emocionalmente, mas ainda tem que ter uma percepção de que tem que ter alguém por ali, mesmo que aquele alguém não represente nada.

Claro que entram os fatores sociais, pessoais, financeiro. Ainda nessa questão de sentir só ou não, o medo de como lidaria com as questões profissionais, com as questões financeiras, com a relacionais. A pessoa sai do casamento e vai viver uma vida de solteira... São outras pessoas, são outras situações, né? Nem todo mundo se adapta a isso. Muita gente sofre muito com essa situação e tem um fator fundamental, que o homem é um ser social. O homem realmente precisa, necessita, ele está intimamente ligado com o outro, quer queira, quer não. Acho que isso também pesa.

ACESSA.com - Os filhos também são um dos motivos para os casais continuarem juntos sem vontade?

Viscardi - Ah, sim. Você lembrou muito bem. É um aspecto muito importante, que realmente tem que se levar em consideração. Eu acho que muitas vezes, as pessoas citam os filhos, mas estão falando delas, essencialmente. Agora, é um fator sim. Muita gente diz 'eu vou esperar meu filho crescer, eu vou esperar o meu filho ter uma certa idade ou minha filha' e deixa os anos passarem e a relação fica ruim, os filhos vão sentindo que a coisa não está legal.

Os filhos percebem. Muitos pais são surpreendidos. 'Ah, meu Deus. Agora eu vou falar com o meu filho que eu vou separar' e quando vai falar, o filho não tem nenhuma surpresa, porque já está vivendo uma relação que não existe há muito tempo. A questão do filho é uma coisa delicada, mas hoje, cada vez mais, existem casais separados, e eles vêem isso o tempo todo.

ACESSA.com - Quando um dos dois ainda tem amor pelo outro, é possível salvar a relação?

Octavio Viscardi - O amor, como tantos outros símbolos, tem, muitas vezes, uma conotação de mito. 'O amor salva o casamento!' Que troço é esse? Que isso? É uma coisa concreta, um milagre que a pessoa tem e aquilo vai salvar... Não é por aí! O amor tem alguma coisa de espontânea, de subjetiva, mas ele é muito do processo de construção do casal. O amor não é assim, nasce pronto e continua pronto e acabou.

Se esse casal não construir ao longo da sua vida uma relação de amorosidade, não creio que o amor vai permanecer 'prontinho', 'boninitinho' do jeito que poderia ter sido em algum tempo. Mas, se ainda eles têm um sentimento, se ele é forte, isso é um fator que pode favorecer o que eles vão fazer com a relação.

Com amor ou sem amor, a relação vai depender do processo de construção. O que eles vão fazer um com o outro, se eles vão investir na relação ou não vão, tentar resolver as coisas mal resolvidas - porque esse é um dos principais fatores -, ao longo dos anos, as coisas vêm corroendo a relação e eles não tratam disso. Não adianta.

Uma amiga minha esses dias disse: 'A maioria dos casais não gosta de discutir a relação'. Mas se não gosta de discutir a relação, não vai ter a relação. Pelo menos é assim que eu vejo. Eu já ouvi pessoas dizerem assim: 'eu não gosto de analisar as coisas, não!' Se não analisa nada, principalmente as coisas de dois, não analisam os dois eu acho que a relação vai dançar. Isso depende do que eles vão fazer, com amor ou sem amor.

ACESSA.com - A amizade é um sentimento suficiente para manter um casamento?

Octavio Viscardi - Muitos casais mantém por amizade. Quando eu falo amor, eu não estou falando somente do amor, homem e mulher. Um sentimento que uma pessoa tem por outra de tal forma que você quer o bem do outro, quer fazer o bem do outro, quer algo sempre bom pro outro. Antes de mais nada o amor é isso. E isso pode ter várias vertentes e uma delas é a amizade.

ACESSA.com - Mas quando existe a amizade, mas não há o sexo, compensa manter o casamento?

Octavio Viscardi - Isso é uma resposta para pessoa e para o casal. Eu, pessoalmente, não acho que é legal. Agora, muitos casais se mantém assim, dizem que estão bem assim, estão felizes pelo companheirismo... Porque têm tantos outros aspectos numa relação e o sexo é um deles.

Os casais que fazem do sexo - embora eu sendo sexólogo, eu tenho clareza disso - o principal suporte da relação, não creio que vá dá certo não. O sexo tem que estar dentro de tantos outros aspectos que são importantes. Um deles é o companheirismo, a divisão, projetos juntos, sonhos juntos, o processo com os filhos, à medida que vão crescendo e tenha um entrosamento e que tenha também um entrosamento para a criação dos filhos.

Enfim, tem tantos aspectos a dois que são tão importantes quanto o sexo. Acho que é possível sim. Eu pessoalmente não acho legal, mas que é possível, sem dúvida nenhuma.

ACESSA.com - Quais os indícios mais comuns de que a relação não anda bem?

Octavio Viscardi - Acho que a gente sempre sabe. É claro que tem gente que toca a sua vida de uma forma aí na corrente, escravo do tempo, escravo do trabalho, fica refém do tempo e tem uma qualidade de vida muito ruim. Fica mais difícil de perceber as coisas, mas a gente sempre sabe.

Por exemplo, a pessoa traída. Claro que a gente pode ser enganada pelo outro, mas eu penso que a gente não precisa ficar correndo atrás dos outros para saber se está sendo legal, fiel ou não. Você sente isso na relação. Agora, quanto mais envolvido você está, às vezes, atrapalha, mas às vezes é mais fácil na medida que você está convivendo com a pessoa.

Indícios? A atenção que tinham não têm mais, o cuidado que tinha com outro já está diferente - claro que isso também muda na relação -, o olhar o gesto, projetos, o cinema que iam juntos e o outro não convida mais e sempre convidou. Como você disse, indícios. Pode ser só a forma como eles estão convivendo com o tempo de relação. Mas são sinais, independente de separação ou não, se vai dar certo ou não, deve cuidar, porque isso afeta a relação. É o que a gente chama das 'pequenas grandes coisas'.

ACESSA.com - Quem tem mais coragem de tomar uma atitude para melhorar o relacionamento?

Octavio Viscardi - Nunca pensei estatisticamente, mas na minha experiência parece que as mulheres são as que querem conversar mais. Tudo que envolve emoção, as mulheres estão muito mais afeitas. Elas querem também discutir a relação. Muitas vezes, o homem participa do processo à medida que ela toca no assunto. Não significa que todos os homens são fechados, é claro! Às vezes, são os homens que tomam essa atitude, mas em grande parte é a mulher. Quem toma a decisão? Depende. Mas, ainda assim, eu acho que mais vezes é a mulher.

ACESSA.com - O comodismo no namoro pode levar a um casamento de aparências?

Octavio Viscardi - O comodismo já coloca uma situação como ruim. O namoro já está ruim se o casal está agindo comodamente. O casamento só vai ser um outro passo onde a situação vai se repetir. O comodismo já está fazendo mal naquele instante, vai fazer também no casamento. Com o passar do tempo, provavelmente, vai ficar mais superficial.

Quando a gente é comodista, a gente é comodista, antes de mais nada, com as coisas da gente. A pessoa está sendo cômoda com o quê? Com aquilo que ela precisa falar do outro, com aquilo que ela precisa ouvir do outro, com o que ela precisa trocar, com o que ela precisa fazer na relação e não faz, aquelas coisas que são duras, mas que precisam ser conversadas, que fazem a gente sofrer, ficar muito assustado ou acuado.

Sim, mas precisa! A pessoa pensa tanto e a coisa fica tão grande na cabeça dela e quando vai falar com o outro, a coisa não é tão feia, tão dolorosa. Porque tudo que fica na cabeça da gente, no imaginário, é muito maior, é muito mais feio.

Sim. O comodismo, antes de mais nada, faz com que a gente se coloque numa posição aparentemente cômoda, mas que vai fazer a gente sofrer muito.

Fonte: www.acessa.com

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