1° Post.
Dependentes de gente
Eles ficam quase invisíveis em um relacionamento, nunca manifestam suas vontades. São inseguros, pouco confiantes e escravos das necessidades e dos desejos alheios
Fonte: POR STELLA GALVÃO
Sílvia sempre viveu com a família. Aos 35 anos, viu o último irmão sair de casa para cuidar da própria vida. Bem empregada e remunerada, ela não dependia economicamente dos pais, mas, emocionalmente, a história era bem diferente. Quando o pai morreu, ficaram as duas: mãe e filha. O vínculo afetivo era fraco, mas uma dependia da outra de um modo quase obsessivo. Recentemente, Sílvia decidiu procurar ajuda para a angústia crescente que lhe causa a perspectiva de perder a mãe, gravemente doente. Ambas protagonizam um caso clássico de co-dependência, um transtorno de personalidade com profundas repercussões na vida das pessoas. "Quem depende assim de outra pessoa não consegue afirmar sua vontade, não sabe muitas vezes o que realmente deseja e baseia sua vida na expectativa do outro", descreve o psicólogo Roberto Ziemer, mestre em Psicologia Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
O conceito de co-dependência apareceu na década de 60, para caracterizar os familiares de dependentes químicos, especialmente de álcool. Nessa época, surgiram vários estudos relacionando um determinado tipo de comportamento dos familiares de alcoólatras. Observou-se que para cada viciado existia um familiar dependente, empenhado em curá-lo e disposto a viver esse papel em tempo integral. "Esse tipo de dependência caracteriza- se por um jogo de comportamentos compulsivos, aprendidos na convivência familiar", descreve a psicóloga Maria Aparecida Zampieri, autora de Co-dependência, o transtorno e a intervenção em rede (Editora Ágora).
Somente nas últimas décadas, o olhar sobre esse transtorno emocional passou a extrapolar o mundo dos familiares dos dependentes químicos, gerando uma série de teorias a respeito do seu surgimento e tratamento.
Infância difícil
Há consenso sobre quando esse tipo de dependência tem início. Segundo o psicólogo Roberto Ziemer, o problema se estrutura na infância, com a dificuldade dos pais em aceitar a personalidade e a identidade da criança, suas formas de manifestarse e assumir-se como pessoa. Cerceamento, julgamento, crítica e proibições exageradas terminam por negar a essência desse indivíduo em formação. "O resultado é a criança perceber que precisa agradar os adultos, depois o mundo externo, para sobreviver em qualquer ambiente, seja social ou profissional", explica. Ou seja, ela abre mão de ser quem é e começa a viver papéis que lhe garantem segurança, reconhecimento e apoio. Quando esse comportamento é transferido para um relacionamento amoroso, é comum um dos pares dar mais atenção ao outro que à própria vida, compara a psicoterapeuta Eglacy Sophia, coordenadora do Setor de Pesquisa e Tratamento do Amor Patológico, no Hospital das Clínicas, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HC-FMUSP).
A ausência de autoconfiança na criança estabelece, assim, o ponto de partida para a formação de um indivíduo que será em todas as áreas dependente, inseguro e "escravo" das necessidades, vontades e desejos alheios.
A base da dependência emocional é a família. Alguns elementos listados pela psicóloga Maria Aparecida Zampieri colaboram para que o quadro se consolide: "a convivência com estigmas, com o sentimento de vergonha e o medo de dissolução da família". Exatamente por ser um processo que se desenvolve no inconsciente da criança, o processo de barganha feito no interior do ambiente familiar, e também na escola e na vida social, é esquecido na fase adulta. "A pessoa passa a ser dependente de outros sem ter clareza disso, porque agir assim é uma resposta desenvolvida", conclui Roberto Ziemer, da PUC.
Resgate da autoconfiança
Os sentimentos que acompanham essa pessoa 'dependente de gente' pela vida afora incluem um vazio espiritual e emocional e um sentimento de carência permanente que reforçam a tendência a depender de outros ainda mais. O resgate da autoconfiança é, portanto, essencial no tratamento psicoterápico para romper ciclos que se repetem. "Co-dependentes em geral buscam indivíduos que já têm uma vida malresolvida, como é o caso de pessoas com dificuldade para se afirmar profissionalmente, com problemas de caráter, dependentes químicos etc." A idéia subjacente é salvar o outro, que, em troca, lhe dará amor e carinho. O resultado da equação é mais frustração e carência.
Conhece alguém ou algum casal assim? É bem provável. Mas, apesar da freqüência com que chegam pessoas com esse tipo de transtorno nos consultórios de psicólogos, não existem estimativas de sua incidência e nem mesmo uma classificação como transtorno psiquiátrico. O tratamento é baseado em psicoterapia para tentar tirar as amarras, essas complexas teias emocionais que restringem o exercício de uma vida com autonomia. Quando há doenças associadas, como depressão ou distúrbios do impulso, o paciente é encaminhado a um psiquiatra para tratamento de suporte também com medicamentos.
2° Post.
AMOR PATOLÓGICO TEM CURA
Pessoas co-dependentes, com o relacionamento em fase terminal, são a clientela mais freqüente do Setor de Pesquisa e Tratamento do Amor Patológico, que faz parte do Ambulatório dos Múltiplos Transtornos do Impulso (Amiti) do HC-FMUSP. "Eles nos procuram em fase de desespero, com medo de serem abandonados", relata a coordenadora e psicoterapeuta Eglacy Sophia. Na psicoterapia de grupo, eles aprendem a reestruturar o modelo da relação, respeitando-se em primeiro lugar. O pólo de dependência comum, no caso, envolve aquele que incorpora o papel do carente e um outro o papel do cuidador. O cuidador normalmente é o dependente. "Ele cuida com intenção de receber o que nunca teve, afeto e atenção", explica a especialista. O grupo começou há dois anos e por ele já passaram 60 pessoas. Sempre há vagas para o processo psicoterapêutico que dura 16 semanas. O perfil varia de pessoas há 40 anos na mesma relação afetiva até adolescentes com alguns meses de convívio com o par. Para participar das triagens para o tratamento, basta ligar para (11 3069-6975).
RELAÇÃO OBSESSIVA
Laura separou-se há um ano e ainda suspira pelo homem que a abandonou quando estava doente e vulnerável. Eles viveram juntos por três anos, período em que alternavam época de paixão intensa e brigas homéricas, motivadas pelo desprezo com que era tratada e pelo ciúme doentio que sentia. Laura teve uma infância de privações afetivas. A mãe nunca fez um elogio para a menina nem a acarinhou. Uma irmã mais velha dava-lhe um pouco de atenção. Já o pai era mais atento ao boletim escolar da filha. Bem-sucedida profissionalmente, ela só se liga a homens que a tratam mal, criando sempre um vínculo obsessivo. Laura agora está se tratando no ambulatório de um hospital psiquiátrico.
VÍNCULO OPRESSIVO
Marcos sempre foi maltratado pelo padrasto na infância. Aproveitou a primeira chance para sair de casa e mudou até mesmo de cidade. Os 600 quilômetros de distância não o mantiveram afastado dos problemas. Sempre às turras com o marido, a mãe, que sofre de insuficiência cardíaca, procura o filho desfiando um rosário de lamentações. Marcos deixa tudo para trás e corre para socorrê-la, além de trazê-la para sua casa. Leva-a ao médico, às compras e tudo se estabiliza. Então, um dia, o marido procura a mulher, ela cede e retorna com ele à cidade onde mora. Marcos se sente novamente abandonado, mas já sabe que algum tempo depois terá que acudir novamente a mãe. Ele está tentando livrar-se desse ciclo vicioso com apoio da psicoterapia.
RECONHEÇA OS TIPOS
SALVADORES:
sua autoestima passa a depender da capacidade de ajudar ou "salvar" os outros, especialmente as "vítimas" que não querem se responsabilizar pelos próprios problemas.
AGRADADORES:
estão sempre preocupados em agradar, pois não acreditam que as pessoas com as quais convivem possam achá-los interessantes. Os "agradadores" estão sempre se achando inoportunos ou impróprios.
INADEQUADOS:
sentemse como os "agradadores" - imperfeitos, "defeituosos", "errados" -, mas desistiram de fazer qualquer esforço para agradar. Ao contrário, se envolvem em situações difíceis apenas para confirmar o papel de "perdedores".
PERFECCIONISTAS:
acreditam que apenas serão amados ou reconhecidos se forem "perfeitos". Perfeccionistas são extremamente críticos e severos consigo mesmos e também com os outros, o que gera relacionamentos conflituosos e estressantes.
NARCISISTAS:
são bastante inseguros e apresentam baixa auto-estima, que encobrem com uma "fachada" de autoconfiança elevada e grande capacidade de manipular e iludir os "agradadores" e os "inadequados". Não aceitam ser questionados ou criticados, e precisam ser sempre o centro das atenções.
3° Post.
TESTE O SEU GRAU DE DEPENDÊNCIA
Responda às seguintes questões, utilizando a tabela ao lado. Peça à pessoa com a qual você mais convive - seu pai, sua mãe, namorado, marido, amiga - que faça o mesmo. Marque no quadrado o número que corresponde à percepção que cada um tem sobre si mesmo.
RESPONDA:
Sempre = 3 Geralmente = 2 Algumas vezes = 1 Nunca = 0
1. Nada do que faço é bom o suficiente e nunca serei reconhecido
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
2. Acredito que a vida ou o trabalho envolve dor e sofrimento
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
3. Acredito que sou incapaz de cuidar das minhas necessidades
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
4. Atraio pessoas críticas ou problemáticas
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
5. Culpo a mim mesmo por tudo o que acontece de errado
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
6. Fico continuamente antecipando problemas/dificuldades
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
7. Não consigo valorizar minhas conquistas e realizações
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
8. Para mim, o trabalho é mais importante que a família e amigos
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
9. Preciso receber a aprovação e me afirmar diante das pessoas
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
10. Quando tenho problemas me isolo das outras pessoas
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
11. Penso que as pessoas estão se aproveitando de mim
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
12. Sinto-me constantemente cansado, fatigado
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
13. Sinto-me freqüentemente pressionado e controlado
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
14. Sinto-me diferente dos grupos com os quais convivo
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
15. Sinto-me responsável pelo comportamento de outras pessoas
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
16. Sinto-me vazio e sem motivação quando não existe uma crise
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
17. Tenho dificuldade para cuidar de mim mesmo
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
18. Tenho dificuldade em aceitar erros
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
19. Tenho dificuldade em compartilhar meus problemas/dificuldades
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
20. Tenho dificuldade para relaxar e me divertir
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
21. Tenho dificuldade para dizer "não"
Sempre Geralmente Algumas vezes Nunca
RESULTADO: PARA CADA ALTERNATIVA ESCOLHIDA, MARQUE OS PONTOS CORRESPONDENTES:
Sempre = 3
Geralmente = 2
Algumas vezes = 1
Nunca = 0.
( ) Pontos
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