Mulher e sexo sempre foi uma combinação que consideram
negativa. Até existe a expressão ‘fogo no rabo’, apenas para o sexo
feminino, que sugere que o desejo sexual das mulheres não é normal. Mas
isso não foi sempre assim. Antigamente diziam que as mulheres tinham
mais desejos sexuais que os homens. Existe até um mito grego
que fala sobre isso. O desejo sexual feminino era visto como um sinal
de sua razão e intelecto inferior. Elas eram as descontroladas e por
isso deviam ser controladas por pais e maridos. Os homens que, segundo
acreditava-se, não foram consumidos pela luxúria, tinham habilidades
superiores de auto-controle e por isso eram adequados para ter posições
de poder e influência.
Em 1891 surgiram relatos contrários a essa ideia acima, que afirmavam
o que ouvimos hoje, de que a mulher não tem tanta necessidade de sexo,
que muitas vezes a relação sexual é algo desagradável para ela, feito
para conseguir aprovação ou para manter um relacionamento estável. A
sociedade moldou um padrão que diz que é feio a mulher gostar de sexo.
Já com os homens, a mudança em admitir apetite sexual teve uma conotação
positiva. Eles não tiveram suas posições revogadas por serem os
descontrolados. Virilidade é apreciada. Ao invés de serem julgados como
irracionais, apareceram justificativas para validar o comportamento
deles como: ‘É coisa de homem”, ‘Homem só pensa com a cabeça de baixo’,
‘É instinto’, etc. Amarrem suas cabritas porque “fulaninho” está a
solta. Assim que ouvimos dos mais velhos, desde pequenos, como sinal de
que é normal a falta de controle dos homens.
O que não mudou foi o machismo, que eu diria que nessa questão,
infelizmente, aumentou, pois homens tem mais liberdade sexual, continuam
nas suas posições e não são julgados como as mulheres por fazerem e
assumirem publicamente que gostam de sexo. Não são chamados de vadios
quando transam no primeiro encontro. Não acham que os homens são
promovidos por terem transado com a chefe, e sim por competência. Saem
como pegadores se ficam com várias, enquanto se as mulheres ficarem com
vários, são vagabundas. As mulheres não acham que as roupas dos homens
são um convite ao sexo. Etc, Etc. É, os privilégios deles aumentaram.
Para as mulheres, os conceitos em ambos os momentos permaneceram
negativos, pois antes os desejos eram admitidos e considerados como
lascívia, sinal de irracionalidade, hoje (as maiorias) quando não
assumem, são frígidas, e se assumem tranquilamente como os homens, são
putas. Não há escapatória.
Nunca, nenhum homem puxou assunto sobre sexo comigo. Não que eu
espere que qualquer desconhecido venha falar disso aleatoriamente, falo
de amigos, que mesmo com intimidade só conversam se eu puxar assunto e
não falam de igual pra igual. “Isso não é assunto para se falar com
mulher”, já ouvi. Se eu faço sexo, sou heterossexual e gosto de falar
sobre isso, qual o problema de eu e um homem próximos/íntimos
conversarmos a respeito?
O que me impressiona nessa história é a mudança de crenças ter
acontecido em tão pouco tempo (pouco mais de um século) e a amnésia que
faz parecer que as ideias atuais foram as de sempre. O mesmo que
aconteceu com a depilação, que embora pareça natural hoje, há menos de
um século as mulheres não retiravam seus pelos. A associação rosa-menina
e azul-menino não existia, e uma série de outras ideias que o
patriarcado cuidou em implantar rapidamente nas nossas mentes para que
pensássemos que tivesse sido assim desde que o mundo é mundo. Mas se não
foram, concluímos nesse caso que o que se entende por quem gosta mais
de sexo nada mais é que imposição cultural, pois a nossa natureza
provavelmente não mudou tão drasticamente e em tão pouco tempo. E a
cultura não pode nos impedir de ter desejos. Nossa cultura tem que
promover nosso bem estar. O que mudou foi a forma de ver as coisas e
consequentemente reagimos a isso.
Aposto na forma de ver as coisas igualmente, sem desconsiderar o contexto, pois conforme este estudo
mostra as mulheres gostam sim de sexo e talvez até mais que os homens.
Se seus desejos não machucam ninguém, não é vergonhoso assumi-los. Se
tiverem vontade (quem sabe para experimentar, caso ainda não o tenham
feito), vejam pornôs, conversem sobre sexo, transem no primeiro
encontro, sejam donas de si. Homens, nada mais natural que as mulheres
terem os mesmos direitos e deveres que vocês também nessa questão, não
é? Espero que essa visão atual mude também a passos rápidos e que em
breve todos possam ser mais felizes e realizados sexualmente.
Fonte: Não aguento quando...
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