Na construção de um texto, assim como na fala, usamos mecanismos
para garantir ao interlocutor a compreensão do que é dito, ou lido.
Esses
mecanismos linguísticos que estabelecem a conectividade e retomada do
que foi escrito ou dito, são os referentes textuais e buscam garantir a
coesão textual para que haja coerência, não só entre os elementos que
compõem a oração, como também entre a sequência de orações dentro do
texto.
Essa coesão também pode muitas vezes se dar de modo
implícito, baseado em conhecimentos anteriores que os participantes do
processo têm com o tema. Por exemplo, o uso de uma determinada sigla,
que para o público a quem se dirige deveria ser de conhecimento geral,
evita que se lance mão de repetições inúteis.
Numa linguagem figurada, a coesão é uma linha imaginária -
composta de termos e expressões - que une os diversos elementos do texto
e busca estabelecer relações de sentido entre eles.
Dessa forma,
com o emprego de diferentes procedimentos, sejam lexicais (repetição,
substituição, associação), sejam gramaticais (emprego de pronomes,
conjunções, numerais, elipses), constroem-se frases, orações, períodos,
que irão apresentar o contexto – decorre daí a coerência textual.
Um
texto incoerente é o que carece de sentido ou o apresenta de forma
contraditória. Muitas vezes essa incoerência é resultado do mau uso
daqueles elementos de coesão textual. Na organização de períodos e de
parágrafos, um erro no emprego dos mecanismos gramaticais e lexicais
prejudica o entendimento do texto. Construído com os elementos corretos,
confere-se a ele uma unidade formal.
Nas palavras do mestre Evanildo Bechara (1), “o enunciado não se
constrói com um amontoado de palavras e orações. Elas se organizam
segundo princípios gerais de dependência e independência sintática e
semântica, recobertos por unidades melódicas e rítmicas que sedimentam
estes princípios”.
Desta lição, extrai-se que não se deve escrever
frases ou textos desconexos – é imprescindível que haja uma unidade, ou
seja, que essas frases estejam coesas e coerentes formando o texto.
Além disso, relembre-se que, por coesão, entende-se ligação, relação, nexo entre os elementos que compõem a estrutura textual.
Há diversas formas de se garantir a coesão entre os elementos de uma frase ou de um texto:
1. Substituição de palavras com o emprego de sinônimos, ou de palavras ou expressões do mesmo campo associativo.
2.
Nominalização – emprego alternativo entre um verbo, o substantivo ou o
adjetivo correspondente (desgastar / desgaste / desgastante).
3.
Repetição na ligação semântica dos termos, empregada como recurso
estilístico de intenção articulatória, e não uma redundância - resultado
da pobreza de vocabulário. Por exemplo, “Grande no pensamento, grande
na ação, grande na glória, grande no infortúnio, ele morreu desconhecido
e só.” (Rocha Lima)
4. Uso de hipônimos – relação que se
estabelece com base na maior especificidade do significado de um deles.
Por exemplo, mesa (mais específico) e móvel (mais genérico).
5.
Emprego de hiperônimos - relações de um termo de sentido mais amplo com
outros de sentido mais específico. Por exemplo, felino está numa relação
de hiperonímia com gato.
6. Substitutos universais, como os
verbos vicários (ex.: Necessito viajar, porém só o farei no ano
vindouro) A coesão apoiada na gramática dá-se no uso de conectivos, como
certos pronomes, certos advérbios e expressões adverbiais, conjunções,
elipses, entre outros. A elipse se justifica quando, ao remeter a um
enunciado anterior, a palavra elidida é facilmente identificável (Ex.: O
jovem recolheu-se cedo. ... Sabia que ia necessitar de todas as suas
forças. O termo o jovem deixa de ser repetido e, assim, estabelece a
relação entre as duas orações.).
Dêiticos são elementos
lingüísticos que têm a propriedade de fazer referência ao contexto
situacional ou ao próprio discurso. Exercem, por excelência, essa função
de progressão textual, dada sua característica: são elementos que não
significam, apenas indicam, remetem aos componentes da situação
comunicativa.
Já os componentes concentram em si a significação. Elisa Guimarães (2) nos ensina a esse respeito:
“Os
pronomes pessoais e as desinências verbais indicam os participantes do
ato do discurso. Os pronomes demonstrativos, certas locuções
prepositivas e adverbiais, bem como os advérbios de tempo, referenciam o
momento da enunciação, podendo indicar simultaneidade, anterioridade ou
posterioridade.
Assim: este, agora, hoje, neste momento (presente); ultimamente, recentemente, ontem, há alguns dias, antes de (pretérito); de agora em diante, no próximo ano, depois de (futuro).”
Assim: este, agora, hoje, neste momento (presente); ultimamente, recentemente, ontem, há alguns dias, antes de (pretérito); de agora em diante, no próximo ano, depois de (futuro).”
Esse
conceito será de grande valia quando tratarmos do uso dos pronomes
demonstrativos.Somente a coesão, contudo, não é suficiente para que haja
sentido no texto, esse é o papel da coerência, e coerência se relaciona
intimamente a contexto.
Como nosso intuito nesta página é a apresentação de conceitos, sem aprofundá-los em demasia, bastam-nos essas informações.
Vejamos como o examinador tem abordado o assunto:
(PROVA AFTN/RN 2005)
Assinale a opção em que a estrutura sugerida para preenchimento da lacuna correspondente provoca defeito de coesão e incoerência nos sentidos do texto.
Assinale a opção em que a estrutura sugerida para preenchimento da lacuna correspondente provoca defeito de coesão e incoerência nos sentidos do texto.
A violência no País há muito ultrapassou todos os limites.
___1___ dados recentes mostram o Brasil como um dos países mais
violentos do mundo, levando-se em conta o risco de morte por homicídio.
Em
1980, tínhamos uma média de, aproximadamente, doze homicídios por cem
mil habitantes. ___2___, nas duas décadas seguintes, o grau de violência
intencional aumentou, chegando a mais do que o dobro do índice
verificado em 1980 – 121,6% –, ___3___, ao final dos anos 90 foi
superado o patamar de 25 homicídios por cem mil habitantes. ___4___, o
PIB por pessoa em idade de trabalho decresceu 26,4%, isto é, em média, a
cada queda de 1% do PIB a violência crescia mais do que 5% entre os
anos 1980 e 1990.
Estudos do Banco Interamericano de
Desenvolvimento mostram que os custos da violência consumiram, apenas no
setor saúde, 1,9% do PIB entre 1996 e 1997. ___5___ a vitimização letal
se distribui de forma desigual: são, sobretudo, os jovens pobres e
negros, do sexo masculino, entre 15 e 24 anos, que têm pago com a
própria vida o preço da escalada da violência no Brasil.
(Adaptado de http://www.brasil.gov.br/acoes.htm)
a) 1 – Tanto é assim que
b) 2 – Lamentavelmente
c) 3 – Ou seja
d) 4 – Simultaneamente
e) 5 – Se bem que
a) 1 – Tanto é assim que
b) 2 – Lamentavelmente
c) 3 – Ou seja
d) 4 – Simultaneamente
e) 5 – Se bem que
COMENTÁRIO:
As lacunas no texto ocultam palavras e expressões que atuam como
conectores – ligam orações estabelecendo relações semânticas entre os
períodos. A banca sugere algumas opções de preenchimento.
Dessas, a
única que não atende ao solicitado é a de número 5, uma vez que a
expressão “Se bem que” deveria introduzir uma oração de valor
concessivo, estabelecendo, assim, idéia contrária à que foi apresentada
até então pelo texto.
Verifica-se, contudo, que o que se segue
ratifica as informações anteriores ao fornecer dados complementares às
estatísticas sobre homicídios. Sendo aceita a sugestão da banca, a
coerência textual seria prejudicada. Por isso, o gabarito é a opção E.
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