Leitura
é um fator importante na educação escolar, porque constitui um
instrumento necessário para a realização de novas aprendizagens, no
entanto, seu conceito tem sido compreendido tradicionalmente como um ato
mecânico de decodificação de palavras. Sendo assim, a leitura deveria
ser vista como um processo de ensino/aprendizagem que vai além de um
simples ato de decodificar, pois envolve uma complexidade e exige
sacrifício, é também descobrir e descobrir-se.
Conhecer as suas concepções é
fundamental para que o educador possa refletir seriamente sobre a
importância que ela tem para o educando como processo de
ensino/aprendizagem. Assim, em uma sociedade em que prevalece a
tecnologia e a transmissão de cultura, o educador precisa conhecer as
estrategias de leitura e procurar desenvolver no educando o domínio
dessas estratégias, possibilitando, desta forma, uma leitura
significativa e principalmente a função que ela exerce tanto dentro como
fora do ambiente escolar. Por isso, deve-se levar em conta que escola e
sociedade estejam comprometidas com a leitura, com a formação de
leitores para toda a vida.
Diante do exposto a presente pesquisa
abordará o processo de leitura e escrita, através de uma abordagem
comparativa segundo os estudos de Kleiman (2000) e Matêncio (1994).
Focalizando o estudo de Matêncio (1994)
sobre o processo de Leitura e Escrita: Natureza e Desenvolvimento do
Processo, analogicamente com o estudo de Kleiman (2000) a respeito da
Concepção Escolar da Leitura, ambos visam discutir e promover uma
reflexão sobre as dificuldades presentes nos alunos, devido a uma
prática escolar não adequada ao processo de desenvolvimento da leitura e
da escrita e, consequentemente não favorecendo o avanço do conhecimento
do aluno, o que, provavelmente tende a aumentar as dificuldades no
processo ensino/aprendizagem.
Com o estudo de Matêncio (1994)
percebe-se que um dos problemas mais frequentes nos alunos relaciona-se à
escrita e à leitura que, por sua vez representam parte das dificuldades
que os mesmos apresentam em uma sociedade, na qual os indivíduos
necessitam tanto compreender o sentido da leitura e da.
A autora define que o problema do
ensino/aprendizagem está voltado para a associação das letras com a
diversidade de símbolos que o aluno deverá reconhecer e com a maneira
pela qual está sendo trabalhada em sala de aula, pois a noção que se
transmite é que as letras definem-se por símbolos representativos dos
sons e da fala e, portanto, a escrita originou-se por meio da oralidade,
mas, de fato, a autora atenta a concepção da escrita de que, apesar
dela estabelecer uma relação com a fala, a mesma tem uma proximidade
ainda maior com os símbolos humanos que, por sua vez antecedem a fala,
apresentando diversas funções em um meio social em que o aluno deverá
desenvolver através do seu conhecimento cognitivo e procurar decodificar
esses símbolos e compreender a informação que transmitem.
Sendo assim, torna-se perceptível que
uma “falsa” abordagem em relação a escrita, traz à tona dificuldades ao
se trabalhá-la na escola, visto que o próprio processo de escrita e
leitura, não podem ser separados e, uma precede a outra.
Logo, esse conceito adotado em sala de
aula promove, de certa forma, um desinteresse pela leitura nos alunos,
resultando ainda mais em uma precariedade do letramento tanto no âmbito
escolar quanto na vida social. Kleiman (1994) expõe esse aspecto que
torna-se uma rotina no decorrer da vida escolar dos indivíduos,
enfraquecendo o relacionamento dos mesmos com o universo da leitura e
consequentemente interferindo no processo ensino/aprendizagem.
Por conseguinte, torna-se necessário
ratificar que no contexto escolar, o que se percebe, são alunos
desmotivados, sem interesse pelo ato de ler, limitando-se a serem apenas
meros decodificares de letras, especificamente leitores passivos.
Para tanto, segundo as concepções das
autoras, elas concordam que uma das razões que tem contribuído para esse
fracasso, relaciona-se ao fato de que esta assume o papel, apenas de
ser trabalhada como método avaliativo, isto é, a leitura torna-se
avaliação com a função de verificar se o aluno ler bem, se apresenta
alguma dificuldade em determinadas palavras, limitando o conhecimento
dos alunos à gramática, verificação de nomenclaturas, concordância, ou
seja, desmerecendo o sentido que pode ser dado ao texto a partir de seu
conhecimento cognitivo, e pelo próprio texto.
Kleiman (2000, p. 107) apud Gomes & Souza (2010, p. 5) apresenta três concepções que a escola tem de leitura:
- A leitura como decodificação, na qual as atividades se restringem ao reconhecimento de palavras idênticas no texto, nas perguntas ou comentários;
- A leitura como avaliação, em que essa deve ser feita em voz alta para verificar se a pontuação e a pronúncia estão corretas ou por meio de resumos, relatórios, preenchimento de fichas;
- A interação numa concepção autoritária de leitura, que pressupõe existir somente um meio de abordar o texto, e uma interpretação a ser dada.
Ainda segundo Kleiman (2000), esta
prática tem desmotivado o interesse do aluno pela leitura, pois os deixa
inibidos, principalmente se for feita em voz alta, avaliando também o
domínio da língua padrão, com isso o aluno fica ressentido e acaba
perdendo o gosto pelo ato de ler. Portanto, ele compreende que a leitura
é uma atividade, pela qual serão avaliados mediante este aspecto e não
como um exercício que deveria proporcionar prazer, conhecimento e
proporcionar a construção de um pensamento crítico.
Concordando com esta asserção, Suassuna (1995) apud Gomes & Souza (2010, p. 4) afirma que
[…] quando o aluno
[ler] sem prazer sem o exercício da crítica, sem imaginação, quando não
faz da leitura uma descoberta, um ato de conhecimento, quando somente
reproduz, nos exercícios a palavra lida do outro, consequentemente não
poderá intervir sobre aquilo que historicamente está posto. Portanto,
deve-se formar leitores capazes de ler criticamente, aptos para
interferir na realidade em que estão inseridos.
Outro aspecto que as autoras destacam em
relação a escrita e a leitura relaciona-se a dificuldade de compreensão
e de interpretação das palavras. Isso deve-se ao método de aplicação
dos textos limita-se unicamente a retirada de informações superficiais,
não permite a interação do leitor com o texto, favorecendo a
participação em diálogos, debates, opiniões, possibilitando a construção
de novos conhecimentos. Mediante asserção, o processo de leitura
favoreceria não só a decodificação de palavras, mas, a partir desde
buscaria novos sentidos reconstruindo o próprio texto.
Kleiman (2000) propõe o seguinte
critério para a solução desse empasse que seria de passar para o aluno
uma quantidade maior de atividades em torno dos textos que já foram
lidos por eles, a fim de que o mesmo desenvolva seus conhecimentos com
as informações que obteve com a leitura dos textos e relacionar com o
conhecimento prévio de mundo.
Confrontando Kleiman (2000) e Matêncio
(1994) torna-se perceptível que elas concordam em relação as concepções
sobre o método, pois a leitura é trabalhada como papel fundamental de
uma atividade voltada para o ensino gramatical. Tendo em vista, que esse
também se encontra nos livros didáticos, os quais são utilizados apenas
como meio reprodutor de informação e conhecimento, excluindo o
conhecimentos dos alunos, tornando-se um ato de imposição, sem
compreensão.
Com efeito, Kleiman (2000) e Matêncio
(1994) propõem alternativas no que diz respeito a concepção de leitura ,
a qual propõe-se que a leitura seja trabalhada de diversas maneiras,
tendo em vista que mostrar que um texto pode apresentar diversas
maneiras de ser trabalhado e com funções diversificadas, dando ao aluno a
oportunidade de interagir não só com os colegas mas com o próprio
texto, levando-o a questionar-se em relação as intenções do autor em
abordar esse tema, levantar hipóteses, ter um posicionamento positivo ou
negativo, dentre outros aspectos.
Sendo assim, nesta perspectiva Freire
(1986, p. 22) afirma que […] “ler não é só caminhar sobre as palavras, e
também não é voar sobre as palavras. Ler é reescrever o que estamos
lendo. É descobrir a conexão do texto, e também como vincular o texto/
contexto com meu contexto, o contexto do leitor”.
Neste sentido, a prática em sala de aula
contribui de forma significativa para o desenvolvimento desse processo,
no entanto o que se percebe, é uma prática defasada, limitada, sem
maiores envolvimentos dos fatores do processo de ensino aprendizagem:
professor/aluno.
Segundo essa prática Kleiman (2000, p. 24) afirma que
A prática de sala de
aula, não apenas da aula de leitura, não propicia a interação entre
professor e aluno. Em vez de um discurso que é construído conjuntamente
por professores e alunos, temos primeiro uma leitura silenciosa ou em
voz alto do texto, e depois, uma série de pontos a serem discutidos, por
meio de perguntas sobre o texto, que não leva em conta se o aluno de
fato o compreendeu. Trata-se, na maioria dos casos, de um monólogo do
professor para os alunos escutarem. Nesse monólogo o professor
tipicamente transmite para os alunos uma versão, que passa ser a versão
autorizada do texto.
De fato, a leitura é um processo em que o
leitor realiza um trabalho ativo de construção do significado do texto.
Por isso, cabe ao professor utilizar uma metodologia de ensino mais
eficiente e que esteja de acordo com as necessidades do aluno, em que é
preciso apoiar-se em diferentes estratégias.
Desse modo, Matêncio (1994) atenta para
se trabalhar a leitura em um sentido de construir significados e não
somente buscar significados, o que de fato ocorre nas escolas, através
de atividades de leitura em que a participação do aluno seja
fundamental, observando o grau de dificuldade tanto gramatical quanto a
compreensão que eles apresentam, pois dessa forma haverá o aprimoramento
do conhecimento cognitivo e linguístico. Portanto, torna-se relevante
de forma clara a ampla variedade de informações que o texto pode
proporcionar através de uma leitura significativa e proveitosa sem
dispensar a participação do leitor.
Enfim, é fundamental que a leitura e a
escrita possam oferecer ao aluno a possibilidade de descobrir caminhos à
aprendizagem significativa, de forma que, o mesmo interprete,
divirta-se, sistematize, confronte, documente, informe, oriente-se e
reivindique trazendo assim conhecimento em benefício de formas de
expressão e comunicação possíveis, reconhecidas, necessárias e legítimas
em um determinado contexto cultural.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo & SHOR, Ira. Medo e Ousadia: o cotidiano do professor. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1986.
GOMES, F. F. L. & SOUZA, J. M. R. Os caminhos para o ensino produtivo de língua portuguesa. V Semana de Letras – Linguagem e entrechoques culturais. Língua, literatura e cultura brasileira. Catolé do Rocha – PB. 2010.
KLEIMAN, Ângela. A concepção escolar da leitura. In: Oficina de leitura. Teoria e Prática. 7ª ed. Campinas: Pontes, 2000.
MATÊNCIO, Maria de Lourdes Meirelles. Escrita e leitura: natureza do processo. In: Leitura, produção de textos e escola. Reflexões sobre o processo de letramento. Campinas: Mercado de Letras, 1994.
Colaboradores
Maria das Graças Pereira de Araújo
Jucenária Azevedo Dias
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