domingo, 11 de março de 2012

A força de um abraço, ou um gesto mais bonito...



Certa vez um pai de família chegou em casa e sentou-se à mesa como de costume. Mas, hoje parece que alguma coisa não está bem. O senho franzido refletia algo estranho, diferente. Havia ansiedade e preocupação naquele semblante. Mãos nervosas abriram uma pasta preta surrada e dela caíram algumas contas vencidas. Aquele homem se debruçou sobre elas num ato de desespero tentando encontrar um alento para suas preocupações. Alheia a tudo, como de costume sua esposa correu para cumprimentá-lo com alegria e entusiasmo, pois hoje era um dia especial, era o aniversário da pessoa que ela mais amava, e uma data tão linda não poderia passar em branco.

“Querida, me desculpe, mas não tenho cabeça para comemorações, estou cheio de dívidas, perdi o emprego e não consigo ver saída para nós”, argumentou ele num tom despachado.

A esposa recuou em silêncio para a cozinha tentando esconder uma pequena caixa que enfeitou com sobras de papéis que embrulharam os presentes do último natal. Havia lágrimas em seus olhos, tristeza e desapontamento. Por vários dias preparou carinhosamente uma pequena lembrança para alegrar um pouco a vida de seu amado companheiro, principalmente no dia do seu aniversário.

Tentando desculpar-se, o marido explicou que o momento não era propício para comemorações, pois a situação era dramática. Mas incapaz de disfarçar seu desapontamento ela levantou os olhos e disse ter colocado naquela caixa um beijo especial, um beijo que lhe devolveria a coragem para seguir adiante. Arrependido, ele foi até à cozinha e percebeu que havia uma caixa ao lado de um pequeno bolo confeitado com muito carinho. A caixa estava vazia, apenas guardava um pedaço de papel, com os seguintes dizeres:

“Querido, fiz o bolo que você mais gosta, economizei durante o mês inteiro para que não faltasse no dia do seu aniversário. Compreendo o quanto você está preocupado com a situação que estamos vivendo, principalmente tentando me dar o conforto que tanto necessito para amenizar a dor causada pela minha doença. Por isso, quero dizer que durante esse tempo, você me fez feliz e sinto-me realizada por ter de você toda atenção que pôde me dar. Não desanime nunca! Sempre confiei em Deus e, principalmente em você. Por isso, quero comemorar o seu aniversário com muita alegria e, principalmente, brindar a vitória pelo seu esforço. Parabéns! P.S.: Não esqueça de ler o telegrama que chegou esta tarde”.

Telegrama:
“Prezado senhor, solicitamos comparecimento na próxima segunda, para assumir seu cargo de diretor. Parabéns. Boa Sorte!”.

No mesmo instante, num misto de desapontamento e alegria ele foi até o quarto e disse: “Venha cá. Vamos comemorar”.
Ou ela não ouviu ou não estava mais com vontade, pois não atendeu ao pedido. Naquela noite o destino foi cruel. O câncer implacável acabou levando a sua inseparável companheira. Inconformado por causa da sua atitude grosseira, ele ajoelhou ao lado do corpo inerte e, chorando, pôde compreender como aquela pobre mulher, sabendo do seu destino, viveu os últimos dias, presa no silêncio da sua doença, transformando tristeza em alegria para não preocupar quem já tinha problemas demais.
Seu corpo foi sepultado num pequeno cemitério do bairro que morava, onde muitas vezes, plantou flores coloridas “para alegrar as almas daquelas pessoas, pobres e carentes”, dizia ela.

Em todos os aniversários seguintes, aquele homem sentava ao lado do túmulo da sua inesquecível companheira e lamentava consigo mesmo: “O mel não é mais doce que o carinho e a atenção dessa mulher. O sabiá que canta para seus filhotes, não é tão gentil como a companheira que deixou de completar a sua declaração de amor, por causa da minha estupidez. Ah! Se eu pudesse ao menos lhe dizer como me arrependo daquelas palavras impensadas, e como o meu coração está doendo agora por causa da minha falta de delicadeza!”.

Às vezes, por motivos banais, deixamos passar oportunidades únicas que jamais se repetirão em nossas vidas. São momentos em que uma distração qualquer nos afasta do abraço afetuoso de um ser querido e nos coloca em conflitos impedindo-nos de dizer “eu te amo”, subtraindo-nos a oportunidade de fazer algo produtivo e verdadeiramente importante, porque escolhemos viver como presidiários de compromissos, afastando-nos da companhia de alguém que pode nos deixar em breve.

Não é necessário que a pessoa a quem negamos nossa atenção seja arrebatada pela morte para sentirmos o desconforto do arrependimento, nem precisamos gritar ao mundo e soltar rojões para demonstrar um pouco de afeto para quem amamos. Por falta de atenção, filhos se distanciam dos pais e partem em busca de alguém que ouça seus desabafos ou responda suas perguntas. Por falta de tempo, cada vez mais permitimos que nossas companheiras se fechem no mutismo, por indiferença e frieza. Por falta de compreensão casais se isolam após tentativas frustradas de entendimento!

Um gesto de ternura deve ser sempre bem recebido. Não importa se estamos sobrecarregados, cansados de repetir tarefas diárias ou tristes porque perdemos o emprego, ou simplesmente sem vontade de atender. Uma demonstração de afeto não pode ser desprezada por nenhum motivo, pois o carinho dá um colorido especial em nossas vidas e motivação para enfrentar qualquer obstáculo. Por todas essas razões, vale a pena prestar atenção nos braços que se abrem para um abraço, nos lábios que se dispõem para um beijo, nas mãos que se oferecem para um carinho ou simplesmente acenam na partida.

Siga tranqüilamente a sua viagem, leve nas mãos a caixinha de presente que recebe todos os dias ao acordar e não espere um momento especial para abri-la. Não deixe escapar as oportunidades únicas que acontecem na vida, pois elas dissipam as trevas e refaz o ânimo, principalmente quando se viaja na escuridão.

Fiquem com Deus!

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