domingo, 19 de fevereiro de 2012

Aprendendo através da dor.


Aprendendo através da dor
por Tania Paupitz -

Outro dia, olhando meus e-mails, deparei-me com uma mensagem muito bonita de Divaldo Franco, que dizia o seguinte: “O sofrimento é a presença do amor ausente. Quando não amamos vem à dor para despertar-nos”.

Confesso que um dos motivos desta frase ter me chamado bastante atenção, deve-se ao fato de estar passando por uma fase bastante difícil, após uma queda e posterior fratura do tornozelo.
Após a cirurgia e, agora em fase de recuperação, poderia, literalmente, afirmar que estou reaprendendo a andar em todos os sentidos. Quando não andamos de acordo com a vida, ela vem nos trazer algum tipo de aprendizado, para que possamos ser recolocados novamente nos trilhos...

Todos nós já ouvimos em algum momento da nossa vida, certo tipo de comentário com relação ao sofrimento: dizem que o sofrimento enobrece, fortalece o nosso espírito, trazendo-nos aprendizados, etc. Torna-se comum, quando estamos passando por algum tipo de desconforto, darmos início a um processo interno de questionamentos, analisando as pessoas com as quais estamos envolvidos, nossa postura perante a própria vida, atitudes, sentimentos gerados e marcas causadas, para que num tempo relativamente curto toda essa situação possa ser de fato bem assimilada e aceita. Dentro de todo este contexto, quando conseguimos enxergar a própria dor como uma grande aliada e não como uma inimiga, retornamos de fato a sua origem, trazendo desta forma, uma nova visão e compreensão da mesma.

E dentro de tantos questionamentos, quando nossa dor chega no limite do insuportável, podemos estar nos fazendo alguns questionamentos: Por que comigo? Será que eu mereço? O que eu fiz para acontecer tal fato?
Neste instante, alguns podem alternar entre a revolta e a compaixão.

A compaixão nos confere a capacidade de nos sintonizarmos com outras pessoas que também passam por sofrimentos, muitas vezes, bem maiores do que os nossos e, ao deixarmos a necessidade básica em segundo lugar temporariamente, vamos descobrir que nos doando, na realidade, estamos fortalecendo o nosso sentimento de força interior.

Podemos perceber dentro de um relance momentâneo, que perguntas outrora formalizadas no âmbito da revolta e da não aceitação, poderiam ser transformadas em outras , mais complexas e profundas:

– Será que deixei de amar ou valorizar alguém em especial? Soube perdoar, não permitindo que a mágoa e a revolta invadissem meu coração? O que preciso aprender com isto que está me acontecendo? Tenho certeza de que os motivos ocultos podem ser muitos e a resposta estará, com certeza, dentro da consciência de cada um de nós.

No decorrer da vida, tenho observado que cada pessoa tem o seu processo pessoal de dor ou sofrimento, porém, através da minha experiência pessoal, posso dizer que a principal coisa que tenho aprendido é a de ser menos rígida comigo mesma e com os outros.
Pessoas rígidas estão sempre se impondo limites, muitas vezes porque, na verdade, não se sentem capazes de ultrapassarem os seus próprios, sempre se escondendo atrás de regras que as fazem permanecer no mesmo lugar, onde tudo é conhecido e seguro, ainda que extremamente limitador.
Hoje, tendo esta consciência mais ampliada, percebo que atrás de toda minha rigidez estava a minha não aceitação da naturalidade da vida, que por si só muda a cada momento.

Aprendi que não importa deixarmos algumas pendências para amanhã – ele sempre irá nos esperar. Estou aprendendo que não importa o quanto tenhamos dificuldade de vivenciar o verdadeiro amor em sua amplitude, nunca é tarde demais para conquistá-lo, ainda que seja através da dor ou do sofrimento...

A lição que fica para mim, se traduz numa célebre frase de Sócrates: “ Transforma as pedras que você tropeça nas pedras da sua escada”.

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