Ele está presente em revistas especializadas, livros, seminários e já é parte do currículo obrigatório em algumas instituições de ensino. Na empresas, foram criados sofisticados programas, objetivando capacitar os seus colaboradores em desenvolver mecanismos próprios de auto-motivação, diante de processos de mudança organizacional e das intempéries e contratempos do cotidiano corporativo. Ah... o cotidiano corporativo, ele não é nada fácil.
Com o tempo, assisti o surgimento de uma geração inteira de profissionais especializados em motivar e criar auto-capacidade de motivação nas pessoas. Uma verdadeira guerra por corações e mentes, onde se emprega um arsenal infinito de recursos e soluções. Cursos, palestras, depoimentos de superação, dinâmicas em grupo, vídeos, shows e até mesmo alguns treinamentos na selva.
Uma mobilização tão grande e articulada, que acabou, com o tempo, entrando em modo de repetição, e pior, se transformando em piada em alguns ambientes. Já vi alguns filmes onde o personagem, sendo ele consultor especializado ou líder de empresa, é protagonizado satiricamente como otimista ingênuo, com vocabulário repleto de frases feitas, e soluções prontas para todos os problemas e conflitos.
Como conseqüência disso tudo, a perda do significado de uma abordagem tão importante. Mas a parte mais confusa vem quando essa parafernália toda tenta tratar do desenvolvimento profissional ou pessoal, da capacidade de operar mudanças significativas, e é nesse ponto que vou propor uma nova abordagem. Proponho sairmos do "lugar comum", deixando algumas obviedades de lado. Antes de tudo uma premissa: mudanças e auto-desenvolvimento exigem sobre tudo coragem.
Então, convido as Vilamigas a tentarem se recordar de qual foi o sentimento que disparou o gatilho das grandes e fundamentais revoluções em suas vidas. Aquele empurrão que veio de dentro, produzindo transformações verdadeiras, profundas e muitas vezes eternas.
Provavelmente não surgiu a partir de programas motivacionais pré-fabricados, ou após frívolos aconselhamentos encorajadores. É claro que tudo isso pode ajudar, mas eu apostaria que um sentimento bastante desconfortável, inquietante e temido esteve presente na maioria das vezes. O desespero.
É difícil senti-lo, mas ele é eficaz. Ele nos faz romper relações tóxicas, pode ser um contrato, pode ser um casamento. Ele nos faz abandonar empregos estáveis e acomodados e nos lançar na seara do livre empreendimento.
Nos faz demitir um chefe insuportável e enfrentar colegas desleais. Muitas vezes nos obriga a resgata a nossa essência.
Por causa dele corremos riscos, que muitas vezes quando não enfrentados, acabam por representar perigos ainda maiores. Basta observarmos a história. Pode ser a nossa, ou do outro lado do atlântico. Os imigrantes que vieram povoar a nossa terra não venceram por outro motivo, a não ser pelo desespero do fracasso e suas conseqüências. As duas últimas grandes guerras da história, representaram períodos de grandes invenções e criatividade, graças ao desespero de civilizações inteiras ao de defrontar com seus algozes.
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O desespero nos faz enfrentar medos e buscar saídas com uma coragem, que em situações normais jamais existiria. É forjado pelo calor das situações e noites não dormidas, jamais em salas confortáveis e refrigeradas. Evidentemente não prego a necessidade da desesperança, ou da existência de flagelos humanos para que possamos nos sentir motivados a efetivar mudanças. Mas é poderosa a força transformadora que vem dela. É única, insubstituível e por vezes necessária.
Gustavo Chierighini, atento observador do universo corporativo, é fundador e publisher da Plataforma Brasil, especializada em informações e conteúdos de inteligência empresarial. www.pbrasilnet.com.br
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