segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Depoimento - Deixamos de ter sexo!
Chamo-me Paulo tenho 39 anos e sou casado à 8 anos com uma mulher maravilhosa, somos pais de um belíssimo filho com 6 anos. A minha esposa não tem desejo sexual e também não sente necessidade do mesmo, isto desde que o nosso filho nasceu.
No tempo de namoro tive que me impor um pouco para que tivesse-mos relações sexuais, as quais não correram lá muito bem. Eu tenho tendência para me excitar em demasia, e na 1ª vez que tivemos relações sexuais não aguentei tanta excitação e masturbei-me antes mesmo da penetração, ela não gostou da situação pois pensava que eu estava a gozar com ela.
Após a 1ª experiência falhada tentamos várias vezes e eu em muitas vezes voltei a ter ejaculação precoce, no entanto com a ajuda dela a nossa vida sexual foi se acertando, até ao ponto de termos quase todos os dias relações sexuais.
Namoramos cerca de 1 ano e decidimos casar, passado meio ano a minha esposa engravidou e começou a ter menos desejo sexual. Após o nascimento do nosso filho o desejo sexual dela foi desaparecendo, tendo uma ou outra vez uma relações um pouco à pressa e sem qualquer vontade por parte dela, eu não, tinha sempre muita vontade em voltar a fazer sexo com a minha esposa. Nas pequenas vezes, raras, que tínhamos relações, ela queixava-se muito que tinha dores e eu com isso excitava-me que consequentemente tinha orgasmos praticamente só de ela me tocar. Passamos a não termos penetração e de tempos e tempos, muito longínquos, eu acercava-me dela e “forçava” o acto sexual. Quando digo força, insistia para que ela tivesse necessidade de ter relações sexuais comigo. Algumas vezes, poucas, a minha esposa, a muito custo, lá me ajudava a masturbar-me, e eu ficava todo contente e também lhe fazia a ela o mesmo, mas sempre contra a vontade dela. As coisas foram se alterado e eu cheguei à conclusão que não valia a pena estar a insistir, quando ela tivesse vontade ela que me procurasse.
Ultimamente tenho notado que ela dá mais atenção as pessoas de fora do que a mim, comecei a ficar desconfiado que ela tivesse outro parceiro e comecei novamente a apertar com ela, sendo que ela sempre me rejeitava, alegando ou que estava mal disposta ou cansada ou porque o filho estava conosco, mil e um desculpas só para não fazermos sexo. Abordei de uma forma um pouco rude, verbalmente, no sentido de voltarmos a ser um casal e não só pais do nosso filho, e após muita insistência minha ela disse-me que não se ia deitar na cama comigo só para fazer sexo, pois não tinha desejo nenhum, não tinha intenções de me servir como as meninas de boa vida fazem. Mais informou-me que já se habituou a viver sem sexo e não sente necessidade nenhuma.
Estou muito triste com este situação, pois eu adoro a minha mulher, e com esta situação de ela não querer ter sexo comigo, está a dar comigo em doido. Segundo ela não tem interesse em fazer sexo comigo nem com ninguém e ficou super zangada com eu desconfie dela. Ela inclusive disse-me que gosta de mim, mas que já não sente necessidade de ter sexo, não sente falta, disse que se nós por ventura nos separarmos ela não vai querer mais nenhum homem e também tem a certeza que não arranjará outro homem melhor do que eu.
Caro Paulo,
O problema que apresenta tem alguma complexidade na medida em que a falta de desejo da sua mulher é anterior ao nascimento do seu filho e não provocada por este. A sua mulher tem um problema de sexualidade que necessita de ser investigado e que foi reforçado negativamente através da dinâmica da relação e da forma como ela sentiu (e atribuiu significado) à sua abordagem sexual bem como do nascimento do seu filho.
Em Portugal, devido às características culturais e sociais do país é frequente as mulheres apresentarem problemas de sexualidade relacionados com a forma como a aprendizagem da sexualidade foi feita e a ideia de que os homens tendem a instrumentalizar as relações para conseguirem ter sexo que é muitas vezes visto como uma forma de objectificação e até abuso das mulheres. Esta ideia é óbviamente uma distorção grave do que deverá ser uma sexualidade saudável no contexto da relação amorosa, em que o sexo é a expressão física do afecto que aproxima e consolida a relação.
Por outro lado, também é comum as mulheres instrumentalizarem a relação sexual como forma de sentirem poder na relação. A pessoa que decide sobre quando e como o casal tem sexo é óbviamente a pessoa que controla uma parte fundamental da relação. Numa sociedade ainda marcada por um certo machismo o controle do sexo era muitas vezes o único recurso das mulheres para conseguirem reinvindicar outras necessidades na relação como atenção, valorização do seu papel etc.
Uma relação intíma sem sexualidade é uma relação disfuncional na medida em que uma parte fundamental da intimidade do casal é negligenciada com consequências óbvias para o funcionamento da relação como por exemplo a frustração que está a sentir e que dá origem a uma resposta cada vez mais inibida da sua mulher e um afastamento do casal. Por outro lado é necessário analisar que outros factores poderão estar na origem na recusa da sua mulher que poderão ser de ordem individual e ou relacional.
Este tipo de problemas têm tratamento e conseguem-se obter bons resultados muitas vezes num período curto de tempo. Se a sua mulher não se quiser tratar, o Paulo terá que ponderar até que ponto deseja permanecer numa relação em que não há sexo. Uma relação sem sexo só poderá fazer sentido se ambas as pessoas quiserem essa opção, caso contrário haverá sempre algum tipo de consequências para a dinâmica do casal que levam muitas vezes à separação ou à procura de sexo fora da relação. O que seria lamentável porque vejo que gosta da sua mulher e ela de si.
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