quarta-feira, 27 de julho de 2011

Depressão como morte de uma ilusão

A depressão como morte de uma ilusão



Seg, 06 de Dezembro de 2010 14:47
Em seu clássico “Lamento e Melancolia”, Freud nos propõe, dentro do estágio do desenvolvimento da psicanálise até os idos de 1914 uma explicação para o fenômeno melancólico que evoluiu em diversas direções desde a sua famosa frase “a sombra do objeto caiu sobre o ego”.

Esse artigo propõe estabelecer uma conexão entre as teorias freudianas sobre a melancolia, sua evolução para conceito de posição depressiva como trabalhado por Melanie Klein e uma proposta para tentar investigar o porquê o diagnóstico e uso tão amplo do termo depressão.



Os estudos de Freud se inicia no rascunho G de 1895 onde já propõe que a melancolia estaria ligada a perda de um objeto pulsional, opinião esta que será mantida em 1914 em “Lamento e Melancolia”. Porém nesse ultimo trabalho Freud aponta para outros elementos importantes desse conflito:

1.Como no luto, existe a perda de um objeto pulsional;
2.Porém diferentemente do luto, o ego identifica-se (torna-se igual a) com o objeto perdido, e passa sofrer da mesma vicissitude de o objeto enlutado, a saber, um desinvestimento libidinal.
3.Um outro elemento importante é que ao se identificar com o objeto perdido, as relações recriminatórias entre o ideal do ego e o objeto são transferidas para o ego, que passa a sofrer da mesma vicissitude.
Outros aspectos podem ser também levantados sobre esse trabalho, como o luto sendo uma perda consciente e a melancolia uma perda inconsciente.

Quando analisamos de perto esse trabalho a ambivalência emocional também desempenha um papel importante no conflito, pois o ódio e as recriminações destinadas ao objeto passam a ser um fator importante na relação entre o ideal do ego e o ego por um lado, e a libido (entendida aqui como a pulsão que liga o ego ao objeto) entre a mania e a melancolia.

Ora, nesse cenário, estamos falando de objetos parciais, de um tipo de relação que não conseguiu satisfatoriamente fundir dentro da mesma relação pulsão de vida e de morte, e onde a identificação e a libido ainda permanecem indistinguíveis. “A princípio, na fase oral primitiva do indivíduo, a catexia do objeto e a identificação são, sem dúvida, indistinguíveis uma da outra. Só podemos supor que, posteriormente, as catexias do objeto procedem do id, o qual sente as tendências eróticas como necessidades. O ego, que inicialmente ainda é fraco, dá-se conta das catexias do objeto, e sujeita-se a elas ou tenta desviá-las pelo processo de repressão…Quando acontece uma pessoa ter de abandonar um objeto sexual, muito amiúde se segue uma alteração de seu ego que só pode ser descrita como instalação do objeto dentro do ego, tal como ocorre na melancolia; a natureza exata dessa substituição ainda nos é desconhecida.” O ego e o ID

A partir dos estudos de Karl Abrahan podemos estabelecer alguns critérios psicopatológicos baseados na forma que o efetua suas relações objetais. A partir dessa perspectiva, Abrahan vai propor que na depressão o objeto não consegue ser retido no ego, conquanto que na neurose obsessiva o mesmo consegue.

Nessa nova perspectiva permitiu a Melanie Klein se aprofundar no estudo dos estados maníacos depressivos e conceituar o que talvez foi seu maior avanço teórico: a posição depressiva. “Posição” é o conjunto de defesas que o ego tem em relação a uma ansiedade. A ansiedade, nesse caso é a perda do objeto.

Mas o que é mesmo um objeto? Que objeto é mesmo esse que se tem tanto medo de se perder?

Temos dois grupos comuns de objetos nesse sentido:

A perda do objeto narcísico.

Temos uma situação chamada depressão narcísica quando o que esta em jogo é a percepção que não somos autosuficientes, quando descobrimos que não somos o centro do universo, quando a criança descobre no Édipo que não faz parte do casal, mas é fruto de suas ações criativas.

Essa é uma dor profunda, e pode mobilizar uma série de defesas, sendo a onipotência, a cisão e a idealização as mais comuns.

A perda do objeto fálico.

Falo pode ser definido como tudo aquilo que o ser imagina que pode levá-lo ou devolve-lo ao nirvana, a um estado de satisfação ilimitada, a perfeição, bem como qualquer possível substituto simbólico do mesmo.

O que se perde aqui é a ilusão de que algo ou alguém vai nos levar a plenitude.

Mas o que é comum nos dois casos, é o que se perde é uma ilusão: ou a ilusão de narciso ou a ilusão do falo. Como bem apontou Freud, se trata de uma perda inconsciente.

Nessa perspectiva podemos entender o termo sociedade depressiva. Ela é depressiva quando alimenta a ilusão narcísica, do individualismo, da busca desenfreada de bens ou aquisições como ética do ser. Ela é depressiva justamente quando torna a felicidade uma obrigação.

fonte http://www.apsicanalise.com/blog-psicopatologia/

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