quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Rejeição...



MEDO, REJEIÇÃO E O SENTIDO DA VIDA DE UMA PESSOA NA ANÁLISE DE SEU SOFRIMENTO PESSOAL

Embora não tenhamos o hábito de procurar o autoconhecimento, avaliar determinadas etapas ou experiências de uma pessoa é a forma mais segura para se descobrir qual caminho a mesma tem traçado no decorrer de sua vida. Analisar o inconsciente é muito mais do que buscar traços neuróticos ou psicóticos na mente humana, sendo que a psicologia deve observar que tipo de pessoas e acontecimentos determinado indivíduo atrai para si mesmo. Não que deseje produzir um estudo místico, mas apenas realçar que todos desenvolvem uma linha de pensamento e energia que dará a tônica de todas as suas vivências emocionais e sociais. Que tipo de pessoa ou acontecimento atraímos é a única certeza para medirmos nossa felicidade ou insatisfação. O ser humano desde seu nascimento está submetido ao fator "tempo" perante todas as etapas de sua vida. Aprende rapidamente que as experiências de prazer são extremamente rápidas ou fugazes, e a expectativa por determinado sonho ou realização pode consumir uma vida toda. O tempo é a compreensão de quanto de sofrimento ou prazer temos desfrutado ou recebido em nossas relações. Quem nos fornece a máxima satisfação e prazer poderá ser também àquela pessoa que nos lançará no mais profundo inferno pessoal. Lidar com a dimensão dos opostos deveria ser uma matéria ensinada no âmbito escolar. O equilíbrio mental ou a chamada "paz de espírito" advém da conscientização de que nunca devemos exagerar ou exorbitar nossas qualidades e também nossos defeitos; negando créditos seja para o narcisismo e também não amplificando as coisas que não deram certo em nossas vidas. Nosso sofrimento é na maioria das vezes causado pela ansiedade da realização de determinada expectativa. Novamente a questão do tempo entra em cena. O lado danoso de qualquer dependência é não perceber que determinado desejo deveria ser consumido ao longo do tempo, e não o transformar numa necessidade compulsiva. O lidar com o tempo é o espelho máximo de nossa saúde mental.


O que sonhamos ou achamos que merecemos, ou ainda não conquistamos se insere no quadro citado. Qual a razão ou sentido de nossa vida? É interessante que quando fazemos esta pergunta há uma associação direta com a questão da sorte, sendo que a mesma pode ser definida psicologicamente como a compreensão de que sozinhos jamais obteríamos algo; e neste ponto nascem todas as superstições ou religiosidades criadas pelo homem. Como realmente conhecemos alguém profundamente? Obviamente não é uma pergunta nada fácil de ser respondida, mas arriscaria dizer que os esquemas de prazer de uma determinada pessoa conduzem na maioria das vezes à essência da mesma. Seja uma pessoa hedonista, narcisista ou ainda alguém que só enxerga o dever pela frente. O lidar com o prazer é o parâmetro central de como vivemos. O hedonismo geralmente leva às drogas e comportamentos compulsivos; o narcisismo estará presente num conjunto de vaidades exacerbadas que servem para o exercício do poder sobre as demais pessoas, sendo a beleza um dos expoentes máximos deste modelo; a pessoa encerrada no âmbito do dever acaba desenvolvendo uma gama de esquemas mentais e até corporais de rejeição pessoal, pois como o senso do dever é uma espada eternamente ameaçadora sobre seu ego, seu valor pessoal se encontra seriamente comprometido. O "dever" amplificado na mente do sujeito retira-lhe o direito da auto avaliação, o transferindo para o meio circundante. Note-se que a palavra dever encerra não apenas uma obrigação, mas também o sentimento de dívida. Desenvolve-se então o Pânico em relação às críticas, e a vida da pessoa se transforma numa interminável tarefa não apenas de agradar o tempo todo, mas evitar a qualquer custo ser submetida a uma situação de prova. É interessante notar como este tipo psicológico é totalmente oposto do narcisista, que teve reforço do meio social para todas as suas idiossincrasias.


A posse, privacidade e propriedade sempre foram valores que produziram as maiores tragédias na humanidade. Nosso desenvolvimento mental está extremamente aquém dos avanços científicos; do contrário, já teríamos nos conscientizado de que tudo que achamos que temos, nunca será nosso; a própria vida é um tipo de "aluguel"; apenas a administração e o impacto do que possuímos perante outras pessoas pode ser considerado o real patrimônio nosso. Como entraríamos numa outra era se tal conceito fosse observado diariamente. Aprofundando um pouco mais a questão poderíamos também refletir sobre se o que possuímos ou nossas "coisas valiosas", não são justamente os fatores determinantes de nosso isolamento e insatisfação? A infelicidade sempre será um julgamento pessoal errôneo ou correto da balança móvel sobre o quanto damos ou recebemos. Parece que lamentavelmente a infelicidade se tornou algo totalmente generalizado, sendo que novamente como cada um a administra é a única coisa singular que restou. Se nosso sofrimento é oriundo da falta de sorte ou oportunidade, de determinada injustiça social ou ingratidão de nosso companheiro, percebam que jamais ocuparemos o centro do poder de mudar tais fatos, estando sempre na expectativa de algo externo. Isto é o eixo da mais genuína impotência humana, e todos sabem da extrema dificuldade de alterarmos tal quadro. Estaríamos de certa forma compensados mesmo renunciando a nossos maiores desejos, desde que o poder retornasse ao nosso ser. A única tranqüilidade possível é a descoberta de que nossas capacidades e habilidades são uma espécie de cofre; sendo que devemos dividir seu conteúdo, mas também perceber que a chave sempre deve ficar em nosso poder; pois do contrário, perdemos totalmente o controle de nosso valor.


Lidar com a questão da rotina é tarefa colocada para todo ser humano. Determinadas coisas ligadas à sobrevivência e cuidados diários se imporão para o resto de nossas vidas, como todos sabem. O ponto que quero realçar é: quando deveríamos tentar algo novo? Os relacionamentos são um excelente teste para a tarefa citada. Quase a totalidade das pessoas os encara como mais uma rotina do dia a dia, seja na questão sexual ou qualquer outra necessidade que se coloca no convívio a dois. O amor jamais pode ser a oferta do comum ou corriqueiro, pois do contrário se torna mais uma profissão em nosso rol de obrigações. O mesmo deve ser cultivado como algo inesperado, vencendo a barreira do medo que impede qualquer experiência criativa. A solidão é a permissão da rotina na relação. Jamais podemos nos contentar com determinados prazeres que são frutos da obrigação de uma tarefa mental. O importante é a participação do outro nas mais variadas ações; troca de seu íntimo, sua visão do mundo, o sentido que fornece a relação, e principalmente sua disponibilidade para encarar a dificuldade de uma convivência que sempre gera frustração. O que todos deveriam saber é que o prazer ou amor inclui sempre regras, e parece que a maioria se esquece de tais fatos. É curioso observar a transformação de uma pessoa após o estabelecimento de determinada relação. Corriqueiramente a mesma começa a agir como um "filho", desejando que o parceiro seja totalmente receptivo e permissivo perante não somente aos seus desejos, mas, principalmente com relação aos seus defeitos que não deseja mudar, quando na verdade todos deveriam agir como "pais", mantendo constantemente uma vigilância sobre suas responsabilidades afetivas e sociais, aceitando o viver como adulto perante o outro. Um dos males dos relacionamentos é exatamente esta compulsão de tentar vivenciar a qualquer custo o lado afetivo infantilizado.


O núcleo de qualquer sentimento sempre transparece nas situações de crise, e conseqüentemente como gostaríamos que o outro se portasse perante nossos mais profundos conflitos. Tudo o que não pode acontecer é quando alguém tenta uma espécie de "pechincha" emocional ou energética, tentando sugar do outro o máximo possível com o mínimo de doação pessoal. Tanto a psicologia, psiquiatria e ciências sociais deveriam se esforçar na tentativa de unificar a problemática máxima da humanidade, ao invés de se aterem a conceitos diagnósticos; pois desta forma tratariam a perversão de "desejar receber muito e doar pouco". A inversão dessa verdadeira "tara" contemporânea é a única esperança para melhores dias afetivos e emocionais para toda a humanidade. Mas o leitor irá indagar como evitar a exploração seguindo tal premissa? Obviamente como medida sócio educativa devemos lançar no ostracismo aquele que não deseja dividir. Escolher um grupo de pessoas saudáveis seja na amizade ou afetividade é uma das mais altas tarefas de nossa alma na atualidade. O drama de nosso desenvolvimento é que não fomos treinados ou ensinados para os impactos emotivos nas diferentes etapas de nossa vida. Cito alguns como exemplos: como lidar ou dizer um "não"; como evitar que uma relação fracassada aumente sua potência pela omissão e comodismo; como se desvencilhar de apegos que nos causam insatisfação; como conviver com alguém que constantemente nos gera um profundo incômodo. O papel da psicologia é fundamental na elucidação e conscientização de todos os aspectos apontados, principalmente na psicoterapia. Deve-se tratar não uma mente estanque, mas uma pessoa que a cada dia sofre na verdadeira arte de se relacionar.

Retomando novamente a questão do tempo, o mesmo pode nos fornecer vários aspectos de vivências intelectuais ou emocionais, como por exemplo: medo, mágoa, rancor, sabedoria dentre outras. O importante a ser colocado é que o tempo apenas estabelece uma espécie de prazo, e o quanto de experiências positivas ou negativas temos vivenciado. O relacionamento sempre será uma "disciplina", exatamente por sua dificuldade e teste da real capacidade de se obter prazer; pois do contrário as formas neuróticas absorvem por completo a personalidade do sujeito. O prazer também deve ser encarado como meta básica, pois seu sustento deve ser diário. O oposto disto é a exacerbação da saudade, que tem como máxima definição psicológica uma condenação íntima e pessoal pelo fato de alguém não ter sido capaz de ter mudado com determinada experiência, buscando então uma espécie de perdão ou inconformismo perante a perda, travando tudo o que é novo. Alguém que cultua o apego sempre será destrutivo, pois por um lado foi incompetente em ser pragmático com seu prazer e o do outro, e por outro aspecto também não consegue criar uma nova ordem mental de busca da satisfação. O verdadeiro herói é o que preenche os dois requisitos apontados: (competência e criatividade).


Até o presente ponto temos observado como o fator tempo é determinante na estrutura comportamental e de personalidade do indivíduo. O que mais gera a impaciência é o tormento da espera para a consecução de determinado objetivo. O problema é que enquanto o mesmo não ocorre nossas capacidades ficam em estado de suspensão. Muitas culturas orientais sempre enfatizaram com bastante sabedoria que a concentração incessante em determinado desejo apenas afasta a efetivação do mesmo. Isto se choca perante o nosso conceito ocidental de esforço. Não que devamos simplesmente deixar de lutar por nossas necessidades, mas a mente tensa e faminta por determinada coisa acaba criando uma barreira para a própria fluidez de sua necessidade. Aquela pessoa que cultiva uma fantasia não consumada, não apenas estará fadada ao sofrimento, mas também caso a realize descobrirá que passou uma boa parte da vida lutando por algo que lhe forneceu apenas um ou poucos dias de glória após a conquista, sendo que o tédio não tarda a aparecer. Isto nada tem a ver com a eterna busca humana, mas, que há muito já deveríamos ter aprendido que diariamente deveríamos procurar estar em plenitude. Mas como podemos encontrar um equilíbrio entre a simplicidade de uma vida diária e rotineira com o desejo de algo novo e arrebatador? Esta gravíssima contradição do espírito coletivo de nossa atualidade não tem merecido nenhuma atenção por parte das ciências humanas. Viver esperando algo que nos retire do tédio sufocante é como esperar o dia da morte para saber o que acontece. A necessidade da transcendência seja numa religião ou na droga revela a todo o instante nossa terrível incapacidade do que fazer com o nosso tempo de vida, independentemente de quanto o mesmo irá durar.

A verdade é que o drama de toda nossa criação e processo educativo, independentemente da classe econômica à qual pertençamos sempre nos impõe o medo como o maior legado, apesar de todos os esforços pessoais de posse ou poder que usamos para encobrir tal fato. A psicoterapia profunda e verdadeira será aquela que ensinar ao paciente como crescer e evoluir com o conflito ou dilema que carrega; navegando pela mais profunda carência da pessoa com o intuito de a transformar em potência. Caso isto não ocorra, a única coisa que acontece é uma simples visita ao problema. É um direito fundamental do paciente que o terapeuta o treine paulatinamente para que consiga a anulação do seu sofrimento. Lembro-me de um sonho muito interessante de um paciente cuja tônica era esta: "sonhei que estava em uma montanha russa com dezenas de metros de altura, sendo que não estava no carrinho, mas tinha que a descer com as mãos e pés; o esforço era imenso; e quando notei que não conseguiria a descida, pensei veementemente em me suicidar, embora não me conformasse com a situação; no momento da queda tive a sensação e o poder interno de que aquilo era um sonho e poderia acordar evitando meu fim". O sonho fala por si mesmo, e o modo como esta pessoa passou não apenas a tentar um controle sobre seus temores e que realmente estava comprometida em evitar sua tragédia pessoal. O amadurecimento advém da tentativa da ação sobre o medo, por mais que o mesmo tente dominar a personalidade.


A aptidão para o amor acontece quando aprendemos a lidar com o medo e sofrimento, então precisamos de alguém, não para o proteger de vivências dolorosas, mas para dizer ao mesmo que estamos constantemente presentes e temos experiência. Qualquer tipo de palavra ou discurso sempre leva à imperfeição ou resultado desastroso, pois o desejo de manipulação de outro ser humano sempre irá esbarrar na resistência da pessoa que almejamos dominar. A espontaneidade é a dádiva máxima, sendo que é criada pela paciência e desejo de que o outro tenha satisfação prioritariamente a nossa, sendo esta outra essência do amor. Averiguar a capacidade de gratidão e troca de uma pessoa é o caminho mais promissor para que possamos realmente investir na mesma. O amor pleno é o encontro da certeza do solo fértil onde podemos plantar as sementes que escolhemos. A consecução de determinado desejo leva tempo, pois a prática da efetivação do mesmo nunca será igual ao sonho acumulado no transcorrer dos anos. A satisfação é algo novo e único, não algo cultivado pela memória; embora isto seja o desafio máximo da compreensão de um ser humano, nunca deixará de ser uma regra inexorável. Avaliar nosso impacto perante o outro é fundamental para a preservação de relações sociais saudáveis. Pensemos na questão da sedução, esta deveria ter o sentido da prova máxima de desejar estar com alguém; infelizmente é usada para o poder, exploração e roubo do íntimo do outro. Como salientei neste estudo, o problema máximo da humanidade em nossa era é a extrema dificuldade de doação, pois todos estão buscando segurança e poder, utilizando todos os mecanismos para obter tais coisas.

Todos gostam muito de repetir o jargão "que as pessoas não mudam". Isto é uma grande falácia, pois a mudança depende necessariamente do interesse ou estímulo para sua consecução. O apego pode ser o fator impeditivo de uma mudança, assim como o tédio ou desgaste pode contribuir para novas atitudes. Determinadas coisas negativas sob determinado ângulo são a chave para nova mentalidade e maneira de viver. Então é absolutamente desprovido o hábito de repetir que não há mudança; o fato central é o modo como determinada pessoa processa um evento doloroso. Penso que a grande tragédia das relações é que não estamos preparados para amparar e até salvar o outro de seu inferno pessoal. Temos de lidar diariamente com a realidade, que nada mais é do que uma somatória de todas as nossas obrigações e angústias, não cabendo nenhum espaço para o prazer. Em seguida fugimos da verdade, que nada mais é do que a admissão de nossa frustração e infelicidade por estarmos inseridos em determinadas situações.

A compreensão de qualquer processo sempre é um fator libertador, pois antes de nos livrarmos de algo que nos amargura, temos de provar para nós mesmos que tal evento ou pessoa realmente nos incomodam, pois do contrário fica apenas uma projeção em algo ou alguém de nossas dificuldades internas. Garantir um espaço para nossos sonhos jamais será uma atitude doentia, muito pelo contrário, é a prova máxima de que nunca iremos nos abater. Apenas devemos ter em mente o conceito exposto acima de que a prática difere de determinado desejo acumulado no transcorrer do tempo. O que realmente faz mal é não entender que qualquer aquisição ou desejo carrega consigo esferas negativas. Pensemos na questão da paixão. Todos necessitam uma experiência de êxtase ou entorpecimento afetivo a fim de se esquecerem pelo menos momentaneamente da vida sofrível que levam. O problema é não perceber que a paixão trará o ciúme, conflito e talvez o máximo de tormento pessoal que alguém pode suportar. Sendo assim, a essência de viver bem é o equilíbrio entre a esfera da realidade, verdade e sonho armazenado.

O auto conhecimento é um dos fatores que nos diferem do restante das outras espécies do planeta. Caso não o busquemos, apenas encontraremos satisfações passageiras que nos acarretarão sofrimentos futuros. Temos de perceber que o ser humano carrega um fardo único, que é o tormento pessoal. Há muito tempo todos não enxergam que a cultura materialista gera a cada dia mais solidão e sofrimento, sendo que a única saída é o encontro verdadeiro com alguém que realmente nos preencha. Estamos numa situação humana de total debilidade afetiva e emocional, e acabamos por fazer o contrário de nossas reais necessidades. É fundamental estar atento para o fato de que caso não haja prioridade para elementos do tipo: amizade, troca afetiva e solidariedade profunda, estaremos em última instância buscando a morte numa vida repleta de tédio. A inteligência pessoal é a conscientização plena da inutilidade da lamentação e abdicação do remoer mentalmente sobre se merecemos ou não determinada coisa, que nada mais é do que a essência do processo da culpa. O fundamental é o senso diário sobre se realmente estamos preparados para os nossos desejos, sendo que este deveria ser o projeto de uma psicologia profunda. A convicção e auto confiança são apenas uma fração de nosso poder pessoal que devemos cultivar; o restante advém da diminuição do medo nas mais diferentes esferas da vida. O ser criativo não é sinônimo de uma habilidade, mas, alguém que não admitiu que o pavor se transformasse numa espécie de santuário ou romaria diária.


O leitor novamente irá questionar acerca de como viver sem medo, num mundo onde mal sabemos se amanhã conseguiremos suprir nossas necessidades básicas? A resposta para este verdadeiro enigma contemporâneo não é nada fácil, mas diria que o merecedor de um autêntico troféu da existência humana é aquele que está sempre competindo ou lutando não para seu ego pessoal, mas para uma existência melhor para todos, apesar das terríveis resistências lançadas inclusive por aqueles que realmente necessitam de ajuda. O desafio máximo é lutar contra a incessante necessidade de conformismo e desistência das pessoas perante o prazer e satisfação. Aprofundando o tema se faz necessária a pergunta sobre o que é realmente o medo? Por um lado temos todo o histórico de repressão de determinado sujeito formando uma personalidade apática e com receio de toda e qualquer nova experiência. Não será surpresa se também descobrirmos que o medo é um irmão do egoísmo, sendo que a função de ambos é não efetivar uma expectativa ou desejo do outro. Em outro estudo enfatizei que a timidez tinha a mesma função; recolher o máximo possível do ambiente ao redor sem doar quase nada. O medo segue a mesma trilha, sendo que sua meta é a constante tentativa de desenergizar todos ao seu redor. Mas seguindo o conceito citado, ainda resta uma grave dúvida: como alguém aceita por uma vida inteira o conformismo e acaba sendo extremamente dócil e obediente perante seus algozes? Responder que a educação repressiva e punitiva forma alguém com essas características é totalmente parcial e denota uma imensa miopia mental.

Quando determinada pessoa aceita todo o modelo de vida repressivo, na verdade está dando continuidade ao processo de escravidão do próprio repressor, pois a ausência de uma rebeldia construtiva retira qualquer possibilidade de mudança, que em última instância é o pedido inconsciente de qualquer pessoa autoritária, pois a mesma vive sempre na expectativa de encontrar alguém para perseguir ou projetar seu lado destrutivo que não consegue controlar. Assim sendo, o medo une ambas, uma por não ter coragem de se desvencilhar de seu enredo de ódio, e a outra por usar da pior vingança possível, que é o reforço de um comportamento totalmente neurotizado.

A própria terapia acaba encarnando tal problemática, pois todos que já se submeteram a mesma sabem que a única chance de uma mudança é ter um "treinador" pragmático e atento contra todas as neuroses, sabotagens e resistências lançadas pela pessoa; passar pelo teste da aceitação da crítica é a máxima certeza de que o sujeito busca realmente um outro modelo de vida, do contrário apenas almeja uma escuta ou desabafo que nunca será a cura. Como observei também em outro estudo, a tendência de qualquer bloqueio é se transformar numa espécie de "entidade" que tem como único objetivo sua própria sobrevivência, minando qualquer tentativa de mudança. Infelizmente tenho observado que as "entidades" quase sempre levam a melhor, já que a sedução de viver no medo e egoísmo é muito forte em nossa sociedade. O importante aqui é a denúncia de tal fato, pois do contrário jamais realmente conheceremos alguém. Quando um paciente chega ao consultório é necessário que o terapeuta o acolha e esteja aberto à sua problemática, porém, tudo o que não pode ocorrer é o reforço da necessidade de vitimização da pessoa, pois o profissional experiente sabe que o fato de se buscar um psicólogo é apenas uma etapa primária de todo um processo, sendo que não há prova nenhuma de que a pessoa almeja uma mudança. O embate entre o sofrimento e a "entidade" que luta por sua sobrevivência deve ser o foco permanente da atenção do terapeuta e paciente. Muitas vezes a terapia verdadeira é o próprio encerramento, para que num futuro a pessoa se dê conta dos bloqueios que não ousou lidar.

Estas observações terapêuticas técnicas são importantes, pois no cotidiano das relações a coisa funciona da mesma maneira. A ingenuidade máxima é se abster de testar ou conhecer alguém conforme os dados acima apresentados. Procuramos a todo instante o apego e manutenção de algo pelo simples pânico de ficarmos sós, quando na verdade deveríamos avaliar se quem está ao nosso lado possui condições de realmente nos acompanhar. O amor pleno é o cumprimento da promessa da companhia perante nossas dificuldades, sendo que algo pronto e fácil é apenas a maximização da loucura. A gratidão e o dever da troca são o gozo sublime para a pessoa que reluta em não desistir. A solução será sempre o aprofundamento e consciência das coisas que estão próximas, e que ainda não conseguimos compreendê-las.

BIBLIOGRAFIA: ADLER, ALFRED. O SENTIDO DA VIDA. EDITORA PAIDÓS, 1937.

COLABORADORES:




IRINEU FRANCISCO BARRETO JÚNIOR(SOCIÓLOGO)
SIMONE JORGE (SOCIÓLOGA)

POR RAZÕES ÉTICAS, QUALQUER ORIENTAÇÃO SÓ É POSSÍVEL PESSOALMENTE E ATRAVÉS DE CONSULTA PSICOLÓGICA.



Antonio Carlos Alves de Araujo - Psicólogo - C.R.P: 31341/5
By:Rô (pesquisas e adaptações)

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