Todos os anos no dia 22 de setembro é comemorada a Lei Maria da Penha, lei que visa proteger e divulgar meios que possam combater a violência doméstica...Dia 22 de setembro, é o dia que vamos massificar essa campanha, para que se possível amenizar essa violência...Denuncie 180 se souber de casos onde há esses tipos de agressões...Não vou me prolongar mais, e deixo um texto completo e seguindo de outros que podem alertar sobre como combater a violência doméstica...Boa leitura ;) *****
Violência à mulher é problema cultural; especialistas cobram campanha
Para profissionais atuantes na causa, Lei Maria da Penha não pode resolver o problema de comportamento, é preciso haver reeducação de valores
Adriana Tamashiro, 31 anos, foi espancada pelo parceiro a
20 dias do casamento. M. R. P., 26 anos, foi agredida grávida de seis
meses pelo marido. T. N. S., 47 anos, passou 20 anos sofrendo agressões
verbais e físicas dentro da própria casa. Elas representam pequena
parcela das mulheres que sofrem violência praticada pelo companheiro.
Recentemente, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) concluiu
em um estudo que a Lei Maria da Penha não reduziu a mortalidade do
gênero. Um dos motivos, segundo especialistas entrevistados pelo Terra,
é a omissão à denúncia de algumas mulheres, mas o principal é que “a
lei não tem varinha de condão, é preciso fazer campanha por uma cultura
de paz”, afirmou a psicóloga Roseli Goffman.
Para a também conselheira do Conselho Federal de
Psicologia, a lei não pode levar a responsabilidade por um problema de
comportamento secular do Brasil. “Ela (Lei Maria da Penha) é um avanço e
tem que continuar. O que a gente precisa é trabalhar são outras
ferramentas para a mudança da mentalidade e imaginário social”, disse.
Em uma sociedade à qual Roseli classifica como “falocêntrica” e
enraizada pelo ódio e machismo - “ocupamos o sétimo lugar no
feminicídio”, comentou – precisa de uma “campanha nacional pela
diminuição da violência contra a mulher”, disse a psicóloga Janaína
Leslao.
Para Janaína, que atua na causa há anos, assim como há
um trabalho grande de combate à violência no trânsito, é preciso atuar
reeducação comportamental de homens e mulheres. “A gente não vê uma
campanha de massa, na mesma proporção que a de trânsito, pela mudança da
atitude dos homens em relação às mulheres, por uma convivência pacífica
e igualdade de direitos”, criticou. A violência doméstica não é um
problema de casal, mas, sim, social. “Devemos meter a colher em
violência contra a mulher”, acrescentou.
A gente não vê uma campanha de massa, na mesma
proporção que a de trânsito, pela mudança da atitude dos homens em
relação às mulheres
Janaína Leslao
Psicóloga
A designer Adriana foi espancada no próprio apartamento.
“Ele quebrou metade da casa, a vizinha ficou em pânico e ligou para o
porteiro, mas ele disse que não podia fazer nada se eu não pedisse ajuda
pelo interfone”, contou sobre o ocorrido do dia 18/9. Ela tem apenas
alguns flashes de memória do dia em que, depois de uma briga, o ex-noivo
a seguiu inconformado com o fim do relacionamento. “Ele me chutava, me
dava socos, minha vizinha ouviu ele me jogar na parede e gritar que ia
me matar”, relatou.
O casal estava junto há pouco tempo, tudo foi muito
intenso, segundo ela: estavam juntos há dois meses e já moravam juntos.
Mesmo assim, após um primeiro mês “lindo”, na primeira discussão ela
percebeu a agressividade mais intensa do parceiro. Na segunda, vieram as
agressões verbais que a motivaram a desistir do casamento. “Talvez
tenha sido ingenuidade minha imaginar que ele não seria capaz de me
levantar a mão”, disse. Com o apartamento todo ensanguentado, o ex-noivo
tentou deixar o prédio, mas foi impedido pelo porteiro. Adriana chamou a
polícia, ele foi preso em flagrante, pagou fiança e está em liberdade.
Casos como o da dona de casa M. R. P. são bastante
comuns, segundo a delegada Celi Paulino Carlota. M. R. P. namorou por
anos na adolescência com o agressor, ficou um tempo separada dele e
depois o casal decidiu morar junto, em 2010. “Nos primeiros meses ficou
tudo bem, depois, qualquer problema que surgia ele não queria conversar,
começava a brigar e a me ofender”, lembrou. Nas situações eles se
separavam, mas meses depois voltavam a morar juntos. “Ele me humilhava,
falava que eu não prestava para nada, que eu era um lixo e nunca ia ter
nada na vida”, relatou M. R. P.
Recentemente, a discussão foi mais além: depois dos
xingamentos usuais, ele a jogou no chão, bateu no rosto, puxou o cabelo e
apertou o pescoço. Quando a polícia chegou, chamada pelos vizinhos, o
agressor já estava indo embora e ela preferiu não denunciar. “Falei que
estava tudo bem, porque já vou passar pelo processo de divisão de bens e
pensão, se ele perde o emprego como vai ajudar eu e a minha filha?”,
justificou. Segundo ela, os policiais questionaram os arranhões no rosto
e pescoço dela, mas ela insistiu que não havia ocorrido agressão.
Elas sempre querem dar uma chance, é uma coisa
maternal, falam que não querem prejudicar o pai dos filhos, que ele
perca o emprego ou vá preso
Celi Paulino Carlota
Delegada titular da 1ª Delegacia da Mulher
A segunda chance
Celi contou que as mulheres vítimas de lesão corporal, ameaças e ofensas chegam à delegacia abaladas em dúvida se devem denunciar ou não. “Elas sempre querem dar uma chance, é uma coisa maternal, falam que não querem prejudicar o pai dos filhos, que ele perca o emprego ou vá preso”, disse a delegada. A orientação da profissional, no entanto, é que a impunidade pode levar à morte da vítima e das pessoas próximas também. Segundo ela, o agressor passa por um período de arrependimento, promete melhoras, mas volta cometer os erros. Ela está recebendo casos em que a violência se estende aos filhos com mais frequência.
Celi contou que as mulheres vítimas de lesão corporal, ameaças e ofensas chegam à delegacia abaladas em dúvida se devem denunciar ou não. “Elas sempre querem dar uma chance, é uma coisa maternal, falam que não querem prejudicar o pai dos filhos, que ele perca o emprego ou vá preso”, disse a delegada. A orientação da profissional, no entanto, é que a impunidade pode levar à morte da vítima e das pessoas próximas também. Segundo ela, o agressor passa por um período de arrependimento, promete melhoras, mas volta cometer os erros. Ela está recebendo casos em que a violência se estende aos filhos com mais frequência.
A missionária norte-americana T. N. S. conheceu um
advogado brasileiro há cerca de 20 anos nos EUA, eles se apaixonaram, se
casaram e se mudaram para o Brasil. “Foram mais de 15 anos de
violência, ele destruiu a minha alma”, contou. T. N. S. sofria
humilhações em público, ouvia que não servia para nada e que mulher era
só para sexo. A primeira agressão física veio com quase dois anos de
casamento: um soco, uma chave de braço e puxões nos cabelos. Depois da
primeira vez, a situação começou a acontecer com mais frequência e,
grávida da terceira filha, ele rompeu a bolsa de água de T. N. S. com um
soco na barriga dela.
Foram mais de 15 anos de violência, ele destruiu a minha alma
T.N.S
Vítima
Ao todo, eles se separaram três vezes, mas os pedidos de
desculpas do agressor sempre convenciam T. N. S. A última briga fez com
que ela ameaçasse denunciá-lo. Como resposta, o agressor disse que
tiraria a guarda dos quatro filhos – três meninas e um menino – de T. N.
S. Ele conseguiu. Segundo ela, o ex-marido juntou um laudo médico falso
que alegava a insanidade mental da mulher e obteve o direito de ficar
com os filhos. “A culpa é minha porque eu demorei a tomar uma posição.
Se eu tivesse denunciado antes não perderia 20 anos da minha vida e as
minhas crianças. Quanto mais tempo você fica na situação, mais coloca as
pessoas em perigo”, afirmou T. N. S.
A denúncia
Um das razões para T. N. S. não ir à polícia era o medo de punição. Ela desconhecia a Lei Maria da Penha, de proteção às mulheres contra a violência doméstica. A lei, em vigência desde 2006, prevê medidas protetivas como o impedimento do agressor de se aproximar da vítima, fazer contato telefônico ou pela internet sob o risco de prisão, além de a mulher poder pedir o afastamento do companheiro do lar e alimentos provisórios. “Ela consegue tudo isso já na delegacia”, garantiu Celi. A denúncia também pode ser feita diante de ameaças e agressões verbais, acrescentou.
Um das razões para T. N. S. não ir à polícia era o medo de punição. Ela desconhecia a Lei Maria da Penha, de proteção às mulheres contra a violência doméstica. A lei, em vigência desde 2006, prevê medidas protetivas como o impedimento do agressor de se aproximar da vítima, fazer contato telefônico ou pela internet sob o risco de prisão, além de a mulher poder pedir o afastamento do companheiro do lar e alimentos provisórios. “Ela consegue tudo isso já na delegacia”, garantiu Celi. A denúncia também pode ser feita diante de ameaças e agressões verbais, acrescentou.
O primeiro passo após uma agressão física é procurar um
pronto-socorro caso existam ferimentos. Depois, a vítima deve ir até à
delegacia da mulher e abrir o boletim de ocorrência. Foi o que fez
Adriana. Logo após a polícia prender o agressor, ela foi para o hospital
e seguiu ao Instituto Médico Legal para fazer exames. Na delegacia, ela
estava certa de que não deixaria a violência passar impune, abriu um
boletim de ocorrência e agora aguarda ser chamada para depor e fazer o
reconhecimento.
Segundo a delegada, as mulheres que buscam ajuda são
cada vez mais jovens e, de acordo com Janaína, cerca de 90% são
agredidas por uma pessoa íntima com quem se estabeleceu em algum momento
uma relação de afeto. Além do apoio policial e jurídico, segundo
Janaína, centros de atendimento à mulher ajudam na parte psicológica e
recuperação da autoestima. As instituições mantêm sigilo e possuem
equipe multidisciplinar, completou.
Fonte: Terra
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