domingo, 6 de outubro de 2013

Ciúme doentio


     
A definição mais recorrente do ciúme é: “sentimento universal e inato originário do desejo de possuir a exclusividade do amor de outra pessoa”. Por mais que eu não concorde quando se referem ao ciúme como um sentimento (explico o motivo em ciúme o que é isso?) não podemos negar que esse seja algo universal e que todos nós em um momento ou outro, ainda que reprimidos, somos tomados por ele. A questão que fica é: quando o ciúme deixa de ser normal e se torna uma doença?

Quando o ciúme se torna doentio?

O ciúme normal
    O ciúme normal surge quando existe uma ameaça real, por exemplo, ao se perceber que outra pessoa (rival) está tentando chamar a atenção do seu parceiro, ou que despertou o interesse deste.  O ciúme normal trás para os que o sentem sensações como insegurança, raiva, tristeza, mas nada que seja insuportável. Uma dose pequena dessa emoção pode até mesmo ser benéfica para a relação, faz com que o parceiro se sinta querido e por vezes tira dele manifestações de carinho, afinal quem ama tenta sempre tranquilizar o ciumento fazendo declarações de fidelidade.
     É claro que mesmo o ciúme normal quando passa a ser frequente, por exemplo, em situações em que um dos pares está o tempo todo sendo sedutor com outras pessoas, começa a desgastar a relação.
   

Ciúme patológico

     
O ciúme patológico é também chamado de Síndrome de Otelo, em alusão ao personagem criado por Shakespeare. Otelo “O mouro de Veneza” dominado por um ciúme irracional mata sua fiel esposa Desdemona acreditando que esta o estava traindo com seu melhor amigo, sem ter nenhuma prova para tal desconfiança.
 
    
    O ciúme patológico costuma ser despertado por situações imaginadas sem que haja fatos concretos para basear a traição, além daquelas que surgem na mente do ciumento. Lembro-me de um senhor que acreditava que sua esposa o traia com um vizinho, sendo que sequer ele tenha presenciado a cônjuge conversando com o tal sujeito. Entretanto esse senhor era capaz de imaginar todas as formas e momentos que sua mulher poderia se encontrar com o rapaz.

    Na Síndrome de Otelo as situações podem ser supervalorizadas ou exageradas, qualquer detalhe corriqueiro se transforma em prova de que o parceiro está sendo infiel.  Assoviar uma canção demonstra que ele está pensando na outra; chegar dez minutos atrasado é sinal que houve um encontro com o amante (esses dois são exemplos reais).

    Está presente também a necessidade de monitorar constantemente o parceiro, analisar seus comportamentos, examinar as amizades, verificar aparelhos celulares e redes sociais, além de realizar questionários sobre tudo o que o outro faz.

    Mesmo quando se consegue provar para o ciumento patológico que as “evidências” que ele encontrou não significam nada e que suas suspeitas não tem fundamento, ele não se convence da fidelidade do cônjuge (ou namorado). Na verdade ele tem a certeza da traição, só precisa provar para os outros.

    No ciúme patológico os sentimentos de tristeza e ansiedade estão quase sempre presentes, bem como a sensação de abandono e desamparo, não apenas por parte do suposto parceiro (a) infiel, mas também pelos amigos e familiares que não acreditam nele (a).

Transferindo o desejo de trair    
    Uma das explicações para o ciúme doentio é que na verdade o ciumento possui o desejo de ser infiel, entretanto por não suportar ou não aceitar que possua tal desejo, ele o atribui ao parceiro, esse fenômeno é chamado de transferência pelos psicanalistas. Não é raro que essa transferência ocorra por existir um desejo homoafetivo, sim por vezes um homem se interessa pelo seu vizinho, porém essa ideia lhe é insuportável então ele passa a atribuir esse desejo a sua esposa, companheira etc.

Ciúme e delírios paranoicos    
     Na Síndrome de Otelo, o ciumento por vezes considera que o parceiro tem um poder de atração e sedução muito longe do real. Para uma senhora que possui tal síndrome seu marido idoso, obeso e sem recursos financeiros (vamos ser realistas!) é capaz de atrair mulheres jovens e bonitas como o mel atrai abelhas. Isso por que se trata de um sintoma paranóide, nos transtornos paranóicos existe um delírio de grandeza, o sujeito acredita ser possuir qualidades que o fazem ser invejados e perseguidos por outras pessoas. Essas qualidades fantasiosas, bem como desejo de trair ao companheiro (a).

 Traição real e ciúme patológico     
     É possível que exista Síndrome de Otelo, mesmo que o parceiro (a) seja infiel, pois o que cabe para o diagnóstico é que a desconfiança seja baseada em fantasias, delírios e ideias supervalorizadas.
    O parceiro infiel por vezes tenta fazer com que o traído pense que tudo o que ele observa é apenas fruto da sua imaginação, e até mesmo que seja culpa dele, desse modo vemos muitas pessoas que são levadas a crer que possuem ciúme patológico sem que isso seja verdade.

     É possível que o ciúme excessivo apareça como sintoma de outras patologias tais como o TOC, esquizofrenia, transtornos de personalidade (Dependente, Borderline, histriônica) quando isso ocorre se descarta a hipótese de Síndrome de Otelo.
 
Fonte: Psicólogo SP  


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