quinta-feira, 25 de julho de 2013

Dependência virtual existe. Aprenda a lidar com o vício...

Entrevistado:
Cristiano Nabuco
Chamada:
Fonte: Baguete
Psicólogo explica como reconhecer e lidar com o vício em internet.

O uso de computadores é praticamente uma regra no contexto social moderno. O como usar, no entanto, é essencialmente desregrado.

Enquanto alguns utilizam a tecnologia para trabalhar, outros têm nele uma alternativa de vida social diferente e viciante. E especialmente no caso da internet o uso em excesso pode ser perigoso.

Diagnosticado por alguns especialistas, o vício na rede é um fenômeno crescente e que já pode ser considerado uma patologia, avalia o psicólogo Cristiano Nabuco:

“A situação é um problema que deve ser tratado para que não se agrave”, explica o coordenador do Programa de Dependentes de Internet do Ambulatório dos Transtornos do Impulso, no Instituto de Psiquiatria, da Faculdade de Medicina da USP.

Na entrevista abaixo, o psicólogo explica como identificar e lidar com a situação.
Perguntas e Respostas
Perguntas e Respostas:

Quando a relação do indivíduo com a internet pode ser considerada um transtorno psiquiátrico?

Primeiramente, a interação de um indivíduo com as tecnologias da web ainda não é um transtorno oficial. É apenas um diagnóstico experimental. Na verdade esse transtorno é derivado de outros problemas, mas ao passo que o indivíduo vai se expondo, a dependência passa a aparecer como outra categoria de diagnóstico.

Podemos observar três características básicas que indicam o início da dependência. São elas, fobia social, depressão ou transtorno bipolar.

Esses perfis de individuo são os mais vulneráveis ao vício, já que utilizam a web para regular o humor ou para contornar um período instável que estejam vivendo. É como se a internet fosse um “prozac virtual”. Há pacientes que chegam a expressão.

Basicamente, a relação de dependência transporta essa pessoa para outra realidade, intensificando a vida no mundo virtual e prejudicando a vida real.

Assim, encontramos pessoas que preferem ter relacionamentos virtuais, parceiros sexuais virtuais e que se apresentam virtualmente. Isso vira patologia quando o sujeito muda para o outro lado e não reconhece ou percebe essa mudança.

A dependência é mais abrangente em crianças ou adultos?

Os estudos apontavam para uma realidade do século XXI e relacionada aos jovens.

Entretanto, a adição independe da faixa etária. Hoje vemos adultos que não saem da rede, assim como adolescentes viciados em jogos. O importante é acompanhar o perfil desses sujeitos, mas não tirar conclusões precipitadas.

Nem toda pessoa que passa muito tempo conectada será diagnosticada como dependente da internet.

O que essas pessoas fazem na rede?

Esses sujeitos vão buscar na web o que não encontram no ambiente real, então as redes sociais são uma forma de entretenimento bastante visada por eles.

Os jovens, muitas vezes, apresentam dependência por jogos online e chats. Isso é causado por baixa autoestima, troca de identidade, poder e fraqueza pessoal.

A ubiquidade da internet é um fator que contribui para essa dependência?

Com certeza. Esse comportamento está ligado não só à ubiquidade, mas também aos três pilares que o sustentam. São eles, Affordability (possibilidade de você custear o uso), Anonymous (anonimato) e Access ( livre acesso).

Esses e outros fatores tornam a internet extremamente atrativa.

Em relação à perspectiva de tratamento, como curar esse dependente, já que o uso de computadores é inevitável?

O computador não é como o álcool ou drogas, nós não temos ainda o comando para impedir o uso, já que hoje todos trabalham em frente ao computador e conectados à internet.

O que pode ser feito é manter um controle, observando o que está por trás da dependência.

É preciso saber o que o individuo que usa demasiadamente a internet esta buscando. Então, muitas vezes, essas pessoas apresentam o que a gente chama de um baixo senso de alta eficácia.

Eles não se sentem fortes suficientes para mudara as coisas e recorrem ao ambiente virtual, por ser mais rápido, simples e fácil.

Se levarmos em conta a internet como meio de comunicação, o que faz desse meio algo tão viciante?

O fato de ela criar uma nova possibilidade de cola social.

Por meio dela você consegue romper as barreiras que se tem na vida real. Você se apresenta de uma forma mais atraente, você mente sobre a suas reais características. Na web você pode simular o que seria uma perspectiva mais aceitável da sua pessoa ou personalidade. Fato que é extremamente vantajoso.

Além disso, ela permite que você evite frustrações e seja menos tolerante, já que existe a possibilidade de se ausentar de uma conversa, deletar alguma coisa, sem precisar criar um laço social.

Em casos extremos, que problemas esse vício pode causar ao dependente?

São muitos os problemas. Por exemplo, um paciente que atendi ficava 35 horas ininterruptas utilizando a internet. Ele não se alimentava, ele urinava e evacuava nas calças para não parar de jogar.

Isso tudo, porque a cada cinco ou seis horas que ele jogava a qualificação do personagem subia e ele conseguia vender itens desse personagem no mercado livre por R$ 500.

Então, um jovem com baixa autoestima, que não se sente seguro, adquire esse produto, e pega carona numa onda que coloca a própria saúde em risco.

Essas pessoas buscam ajuda por vontade própria?

Normalmente vão buscar ajuda porque alguém percebe a gravidade do problema e encaminha a um médico. Muitas vezes chegar até um psiquiatra é independente da vontade dessas pessoas.

Teve um caso de um menino de oito anos que me escreveu pedindo socorro, pois queria sair desse mundo virtual e não conseguia.

Entretanto, são poucas as que pedem ajuda de fato.

Você acha que as empresa que fornecem conteúdos viciantes na web deveriam se responsabilizar pelas consequências que esses produtos geram nas pessoas?

Sim, mas ainda não é o cenário que estamos vivenciando.

Uma vez eu estava em um congresso e o representante de determinada empresa de telefonia chegou até mim para dizer que estava preocupado com alto número de tráfego de dados de internet que se transmitia.

Além disso, afirmou que a empresa estaria se eximindo das responsabilidades referentes aos danos causados nos usuários do serviço dessa companhia.

Isso prova que ainda falta um cuidado por parte das empresas.


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