quarta-feira, 8 de maio de 2013

Dor, o silêncio que fala.

Dor, o silêncio que fala

por João Carvalho Neto
Falar de dor é tratar de um assunto pertinente a cada um de nós, a toda a humanidade. Certa vez alguém me disse: "Nasceu neste mundo, não tem jeito... já sabe que vai sofrer!"
E isso é o óbvio, apesar de tantas vezes a dor nos parecer surpreendente, como se tivesse caído em endereço errado. Mas errada era a nossa perspectiva, de achar que teríamos algum privilégio que nos imunizasse da dor; talvez isso seja um pouco fruto do nosso narcisismo remanescente, insistindo em nos fazer imaginar que somos melhores e merecedores de vantagens. Infantil ilusão!
Bem... nascemos neste mundo e teremos que sofrer em algum momento. O fato é que existe a dor inevitável, fruto da deterioração da matéria, das agressões externas, das frustrações impositivas, mas também existe aquela que nós criamos ou potencializamos no exercício da nossa vontade.

O que é a dor? Vamos pensar em uma teoria geral da dor, sem aprofundarmos particularidades que não caberiam nestas despretensiosas linhas, mas uma teoria que possa ser utilizada em sentido amplo.
A dor está diretamente ligada à noção de limites. Toda dor envolve a ultrapassagem de algum tipo de limite. São os limites biológicos das células, os limites fisiológicos da dinâmica corporal, os limites psíquicos da frustração, os limites dos relacionamentos sociais etc.. Se você tenta furar sua pele com um cabo de vassoura provavelmente não conseguirá, porque sua pele terá resistência para suportar aquela pressão, mas se você fizer a mesma pressão com a ponta de uma faca irá furá-la porque atingiu um limite que ela não suporta mais resistir.
Assim com tudo o mais: se você sofre a perda de um amigo distante, se abate, mas supera rapidamente; mas se a perda foi de um ente muito querido o sofrimento é maior e com consequências mais complicadas.

O nome que damos hoje a essa habilidade maior ou menor de suportar a dor é resiliência, um termo tirado da Física e que diz respeito à propriedade dos metais de absorverem um impacto e retornarem à sua forma original. A resiliência psicológica é a capacidade que o ser humano tem de absorver os impactos das frustrações da vida e se adaptar às circunstâncias que se tornaram inevitáveis. Por isso cada um tem seus próprios limites.
Freud dividia os sofrimentos em 3 tipos: os da deterioração da matéria biológica, os da ação de estímulos externos e os devidos aos relacionamentos.
Vou me permitir utilizar uma classificação oriunda da filosofia budista, que divide os sofrimentos em: sofrimento pelo sofrimento, sofrimento pela impermanência e sofrimento devido aos condicionamentos.
Os primeiros são aqueles que em Psicanálise chamamos de dor secundária, aquela que se origina de uma dor primária (que foi inevitável) gerando perdas e impedimentos que, quando não bem elaborados, tornam-se uma dor secundária. Exemplo: quebrei a perna! Posso aceitar o fato de ficar limitado e me ater a ser produtivo dentro do que é possível ou ficar me lamentando por não poder fazer aquilo que eu gostaria. Este tipo de angústia é muito comum nos estágios de imaturidade psicoespiritual.

O sofrimento pela impermanência decorre da realidade irrefutável de que tudo neste nível de evolução em que nos encontramos é transitório, desde a posse de bens materiais, passando pelas circunstâncias em que vivemos, até os nossos relacionamentos. E lidar com a transitoriedade é um exercício de extrema dificuldade, mas um dos principais, a nos conduzir no processo de construção da autonomia. Neste exercício, o de lidar com as perdas que a transitoriedade nos impõe, aprendemos a não nos acomodar sob a proteção ou amparo de pessoas ou situações, desenvolvendo a capacidade e a força de superação e independência.
Já os sofrimentos movidos pelos condicionamentos podem ser divididos em condicionamentos afetivos e os do sistema. Nos afetivos, tendemos a repetir os modelos das relações anteriores, da infância ou de vidas passadas, nos novos encontros afetivos, alimentando olhares distorcidos da realidade (porque condicionados pelo passado) e impondo respostas desarticuladas com as efetivas situações que estamos vivenciando. É a chamada neurose!
Os condicionamentos do sistema dizem respeito ao incentivo do "goze tudo aqui e agora" em que as propagandas se baseiam para fomentar a venda da produção a fim de gerar capital. E essa estratégia de marketing encontra ressonância nas características amorais do inconsciente, que funciona dentro do mesmo princípio, alimentando uma pulsão pela satisfação imediata e intensa do desejo. Só que, com isso, quebra-se a regra principal da dor que é o respeito aos limites. Quando você goza além do que pode - fisicamente, emocionalmente, financeiramente - vai ter que assumir o ônus do seu gozo que será a dor.
A grande questão é saber usufruir do prazer possível sem ultrapassar os limites do aceitável pelo seu corpo, pela sua mente e pelo seu bolso. Mas também aceitar o inevitável quando ele se impõe, sem ultrapassar os limites da revolta contra os determinismos da vida, o que quase sempre invoca retornos dolorosos das leis gerais do universo.
Todas as vezes que sentimos alguma forma de dor, algum recado nos está sendo passado pelo corpo de que ultrapassamos limites. Por isso, a dor nos silencia nas nossas possibilidades de prazer e satisfação, para nos dizer alguma coisa em benefício da busca de um equilíbrio extremamente desejável, único capaz de nos levar a uma situação de maior saúde física, mental e espiritual.

VEM AÍ O IV CONGRESSO NACIONAL DE TERAPIA REGRESSIVA
www.congressotr2013.com.br

João Carvalho Neto
Psicanalista, autor dos livros
"Psicanálise da alma" e "Casos de um divã transpessoal".
www.joaocarvalho.com.br
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Rô Carvalho.

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