segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Homens que não sabem amar - o que passa na mente de sedutores incapazes de manter um relacionamento


Eles são sedutores, inteligentes e interessantes. Não medem esforços na hora da conquista. E continuam destilando seus encantos por um tempo até que, sem mais, desaparecem. Em seu vácuo, deixam apenas a dúvida: o que aconteceu, afinal, se parecia tudo tão bem? Marie Claire conversou com especialistas e com mulheres para tentar desvendar esse perfil de homem. Será uma espécie imune ao amor?
Por MAYRA STACHUK

Toda mulher passou ou conhece alguém que tenha passado pelas mãos daquele tipo que faz de tudo para conquistar e depois simplesmente some — ou a troca por outra — sem dar explicação. É quase um clássico na lista de experiências amorosas que acabaram mal. Mas será que dá para pôr todos esses homens sob o mesmo rótulo e classificá-los simplesmente como grandessíssimos cafajestes? Talvez parte deles seja mesmo, outros provavelmente não estavam a fim (é possível que um homem não goste da gente sem que ele seja necessariamente um cachorro, afinal). Alguns, porém, por mais que queiram, podem apenas não conseguir amar. Ou, como diagnostica o especialista em relacionamentos amorosos norte-americano Steve Carter, podem ter fobia de compromisso.


Mas como é que a gente identifica, então, se o cara com quem estamos lidando tem boas intenções ou está pronto para fugir a qualquer momento? Existem diferentes padrões de comportamento entre os fujões: há os que desaparecem no dia seguinte, os que mudam de atitude em pouco tempo durante a relação (geralmente curta), os que transformam as qualidades da mulher em defeitos de um dia para o outro e os que traem compulsivamente. Qualquer que seja a história, fica evidente a falta de comprometimento com a relação.

“Um homem com fobia de compromisso é confuso e confunde as mulheres. Ele vive dividido entre a necessidade de amar e um medo incontrolável de se comprometer. Sua confusão cria um padrão de comportamento tão claro quanto impressões digitais”, diz Carter em seu livro, Homens que não conseguem amar (Sextante, 240 págs.). Nele, Carter define esse perfil de homem com o que chama de “síndrome de perseguição/pânico”. “Isso quer dizer que ele empreende uma perseguição incansável até sentir que o amor e a reação da mulher o deixaram encurralado no relacionamento — eternamente. No momento em que isso acontece, sente o relacionamento como uma prisão que lhe provoca ansiedade; quando não, pânico total. Antes que a mulher saiba o que está acontecendo, o homem já começou a fugir do relacionamento, dela e do amor.”

Foi o que aconteceu com Luísa*, 31 anos, que até hoje não sabe explicar o que pôs fim a sua relação com Pedro*, um homem dez anos mais velho que ela conheceu na escola de inglês em que trabalhava. Charmoso e sedutor, Pedro foi insistente até convencê-la a sair com ele. Durante os três meses em que ficaram juntos, ele a apresentou aos amigos e a levou para conhecer a avó, por quem havia sido criado desde que os pais morreram, quando era criança. Disse que era a primeira vez em muito tempo que levava alguém para conhecê-la. Tudo parecia bem e eles faziam planos de uma viagem a dois até a noite em que ele sumiu. Eles haviam combinado que ele a pegaria no trabalho para irem jantar. E Pedro não apareceu. Luísa, em princípio, ficou preocupada. Ligou no celular. E no telefone da casa. Nada. Esperou quatro horas até que, ainda confusa com o sumiço, decidiu pegar um táxi e ir para casa. No dia seguinte, nada de notícias. Ele não atendia o telefone, não dava sinal de vida. Luísa mandou e-mails, torpedos. Nada. Duas semanas depois, na porta da escola de inglês, viu Pedro com uma colega de trabalho, aos beijos. Descobriu que estavam saindo havia uma semana e que ele também a tinha levado para conhecer a avó — com a mesma conversa de que era a primeira mulher que levava lá. Resolveu ligar, mais uma vez, para tentar entender o que havia acontecido. Mas ele não atendeu nem ligou de volta. Poucos meses depois, Luísa encontrou a tal colega de trabalho e soube que os dois não estavam mais juntos. Ainda muito ferida pela forma como aquele amor que parecia tão especial havia terminado, resolveu chamar a moça para um café. Reviu o filme de seu relacionamento nas palavras daquela mulher. As mesmas histórias, as mesmas promessas, o mesmo sumiço. E, juntas, elas descobriram que não foram as primeiras a cair no charme de Pedro. E provavelmente não seriam as últimas.

Medo de intimidade
A psiquiatra Ana Beatriz Barbosa Silva, autora de diversos livros, entre eles Mentes perigosas — O psicopata mora ao lado (Fontanar, 210 págs.), também reconhece a existência desse tipo de homem que não consegue amar, um padrão de comportamento que ela chama de fobia afetiva. Nesse cenário, ela explica que o homem (ou mulher, já que também estamos sujeitas a agir assim, apesar de ser mais raro) sofre na verdade de um profundo medo de rejeição. “Muitas vezes a pessoa quer aquela relação, mas não consegue lidar com a intimidade”, diz. Mas como um homem com esse grau de insegurança seria capaz de se apresentar dono de si na hora da conquista? “Por serem profundamente inseguras, essas pessoas tendem a construir sua autoestima em cima de um personagem seguro, bem-resolvido, sociável. Mas temem constantemente que, com a intimidade, sua verdadeira identidade, sua fraqueza, seja descoberta e elas sejam rejeitadas. O que ela faz, então, é terminar o relacionamento antes de levar o fora que acredita que vai levar”, afirma Ana Beatriz.
“Esse tipo de gente não tem noção de sentimento, de compaixão”

Outra possível explicação para esse tipo de comportamento, segundo a psiquiatra, é a dependência afetiva da paixão. É possivelmente onde se encaixam aquelas histórias de homens infiéis, que vivem trocando sempre uma pela outra. “Existem pessoas viciadas na paixão, naquela sensação de começo de relacionamento, na adrenalina. É quase como uma dependência em drogas ou em álcool. Em geral, são aqueles que nunca toleraram a frustração, é como se a vida afetiva tivesse sempre que estar a 200 km/h. Quando o relacionamento começa a entrar na fase madura, quando a paixão vai virar amor, ele se desinteressa”, diz a especialista. É aquele tipo que sempre encontrou o amor da sua vida, a cada vez que começa uma história acredita que dessa vez será diferente. Mas dificilmente é. “Não fazem isso de forma consciente, não entram na vida de alguém para fazer mal. Apenas se desinteressam porque a chama virou brasa”, completa ela. A paixão, segundo algumas linhas de pesquisa, dura entre nove meses e dois anos. E o homem que vive só de paixões — não precisa ser um expert para saber — é um típico imaturo. Mas isso, ao contrário do que muita gente pensa, não é um desvio de caráter e sim uma deficiência em seu desenvolvimento emocional e psicológico. É o correspondente masculino à mulher que vive em busca do homem perfeito, do príncipe encantando que não existe. Mas tanto esse caso como os dos fóbicos (ou medrosos do amor) podem ser “curados”. “Em geral, é difícil a pessoa enxergar sua dificuldade sozinha. Mas como a base desse comportamento está em conflitos internos, uma vez resolvidas essas questões, em geral com terapia, eles podem se tornar homens prontos para o amor maduro”, diz a especialista.

Casos extremos: a psicopatia leve
Pode não ser fácil, mas esses homens que não sabem amar são capazes de aprender a se ligar a uma mulher, já que eles têm a noção de sentimentos. Entretanto, há casos extremos de homens que simplesmente são incapazes de amar. Podem até saber o significado da palavra amor, mas não conhecem a sensação que ele provoca — e isso não só no relacionamento amoroso. Eles não se ligam de verdade a família, amigos, filhos, ninguém.

Nascem com um distúrbio, um erro no funcionamento mental que os torna incapazes de compreender sentimentos como empatia, culpa, remorso e amor. E a ausência desses sentimentos é o que caracteriza uma espécie bem mais nociva e perigosa de homens que não sabem amar: os psicopatas leves ou sociopatas. Parece uma termologia exagerada, já que estamos acostumados a associar psicopatia a casos de assassinato em série, crimes passionais. Mas os primeiros capítulos do livro Mentes perigosas tratam justamente de um tipo de psicopata menos conhecido e, possivelmente, mais comum do que os que chegam aos jornais. São tipos que dificilmente teriam coragem de matar alguém, mas que, assim como os outros, agem friamente em benefício de seus interesses sem se preocupar na consequência de seus atos a outras pessoas. “No campo dos relacionamentos amorosos, um psicopata usa qualquer pessoa como um instrumento ou troféu que ele se orgulha em exibir”, diz Ana Beatriz. “São casos menos comuns do que os com outros tipos de deficiência afetiva, como a fobia ou a dependência afetiva da paixão, mas são também os mais nocivos.”
“Muitas vezes ele quer a relação, mas não sabe lidar com a intimidade”

Nesse padrão de comportamento, o homem é aquele que se mostra amoroso, carinhoso e atencioso até conseguir o que quer. Ele faz de tudo para alcançar seu objetivo, que pode ser material ou a necessidade de posse (muitas vezes confundida com amor excessivo).

Todo psicopata age num padrão de quatro etapas no processo de caça. Na primeira, ele estuda a vítima, conhece seus gostos, suas fraquezas. Ele em geral procura quem esteja fragilizado, porque é mais fácil de ser dominado. Uma viúva recente, uma mulher que tenha saído de um relacionamento difícil, que tenha perdido um ente querido. Enfim, alguém que ele consiga manipular. Depois de estudar a vítima, ele começa a fase da absorção, na qual já sabe o que a vítima quer e faz tudo para satisfazê-la, ganhando, assim, sua confiança e seu amor. É aqui também que começa o controle excessivo sobre ela, afastando-a dos amigos, do trabalho ou do que quer que seja que possa afastá-la dele e fazê-la desconfiar de suas intenções. O próximo passo é a exploração, em que o psicopata suga toda a energia psíquica e física de sua presa. Ele reestrutura a vida da parceira de acordo com seus interesses. É nessa etapa que a mulher mais sofre, segundo Ana Beatriz, porque começa a perceber que ele não era quem parecia ser, mas ainda não sabe que está dormindo com o inimigo. Acha que ele está infeliz e começa a fazer de tudo para agradá-lo com medo de perder aquele homem que tanto a ama. A última fase é chamada revelação e horror, quando o cara mostra o que realmente é. Em geral, ocorre porque o psicopata já esgotou suas possibilidades naquela relação e encontrou outra vítima, ou então já tem um domínio tão grande sobre a mulher que sabe que mesmo mostrando sua crueldade não irá perdê-la — ou porque já tem um filho, ou por saber que ela depende dele financeiramente, ou ainda porque tem em mãos argumentos de chantagem.

“Esse tipo de gente não tem a noção de sentimento, de compaixão. É realmente um homem que não sabe o que é amor. E nunca saberá.”

Como identificar um homem que não consegue se comprometer

No início...
• Ele investe pesadamente e parece estar mais interessado em você do que você nele

• Tem um histórico conturbado com mulheres, mas a faz acreditar que com você será diferente

• Faz tudo o que pode para impressioná-la: se tem dinheiro, gasta; se tem algum talento, o exibe; se é inteligente, mostra

• Ele age como se precisasse mais de você do que você dele

Em pouco tempo...
• As palavras e ações dele passam a ser cheias de mensagens ambíguas de uma hora para outra

• Ele deixa claro que determinadas áreas importantes da vida dele, como amigos, família e trabalho, são “zonas proibidas” e exclui você de algumas ou da maioria delas

• Foge dos eventos que incluam sua família e amigos e evita passar muito tempo com essas pessoas. É como se tivesse certeza de que alguém ali sabe alguma coisa negativa sobre ele

• Ele pode deixar pistas de que está interessado ou até mesmo saindo com outra mulher

• Se estiver saindo com outra mulher, mente garantindo que você é a pessoa mais importante da vida dele (apesar de não demonstrar isso em gestos)

• Apesar de tudo o que diz, nada muda: ele não deixa o relacionamento avançar e
se recusa a falar sobre isso


“Ele não sabe o que é o amor”

A estudante Camila*, 23 anos, aborda até hoje em suas sessões de terapia sua traumática experiência amorosa com um homem que se encaixa no perfil de psicopatas leves. O namoro, de sete meses, tinha como marca registrada a manipulação, o interesse e a frieza. Camila contou sua história a Marie Claire.

“Passei um bom tempo com a autoestima baixa, enquanto meu peso era inversamente proporcional. Eu estava gorda e isso me deixava insegura, carente e vulnerável. Quando Marcos* disse que me achava linda e que meu peso não importava, é claro que me conquistou. Ele não era bonito, mas era alto, forte, tinha um porte interessante. A gente se conheceu por meio de amigos em comum e éramos ambos extrovertidos, gostávamos de balada, enfim, tínhamos afinidades. Eu sempre fui muito mais falante, falo até alto demais, chamo a atenção, mas ele dizia que achava esse o meu charme. Nossa primeira transa foi ótima, combinamos muito no sexo, e isso é algo que valorizo demais. Não que eu tivesse tido muitos namorados antes dele, mas gosto de sexo e nos dávamos bem na cama; esse é o principal motivo pelo qual ficamos tanto tempo juntos, imagino. Além disso, toda mulher gosta de ser elogiada e eu ainda mais, pois era muito insegura em relação ao meu corpo. De qualquer forma, em pouco tempo todos aqueles elogios desapareceram e esse meu jeito virou um defeito. Todas aquelas declarações de amor se transformaram em broncas, ciúme excessivo, sentimento de posse e manipulação. Em seguida, veio a implicância com meus amigos. Além de pedir para eu me afastar de muita gente e das brigas cada vez que alguém deixava um recado no Orkut — tinha crises de ciúme até do meu sobrinho de cinco anos —, me queria só com ele, vivendo para ele, em tempo integral. Sabotou meus regimes me levando lanches do McDonald’s ‘de surpresa, para me agradar’ e sabotou meus estudos me fazendo faltar no cursinho com chantagens
emocionais. Quase me fez perder o vestibular, pois queria que eu ficasse em casa com ele. Foi esse ‘grude’ excessivo também que fez com que ele perdesse o emprego. Ele já não ganhava muito, era auxiliar administrativo, era eu quem pagava tudo: nossas viagens, nossas saídas. Sempre foi, aliás. Nas primeiras vezes que saímos até dividimos a conta, mas quando eu comecei a querer ir a lugares mais bacanas, a baladas que ele não podia pagar, me ofereci para bancar e depois virou natural. E ele também não fez muito esforço para conseguir outro emprego, não. Cheguei a levá-lo diversas vezes (ele não tinha carro, era sempre eu que dirigia) a entrevistas de emprego que ele não mostrava o mínimo esforço para conseguir. Acho que esperava alguma ajuda do meu pai, parecia que achava nossa obrigação ajudá-lo — eu pagando as contas, já que ganhava uma boa mesada, e meu pai arranjando emprego para ele. E foi nesse meio-tempo que descobri que ele havia mentido quando disse que havia entrado na USP e trancado o curso no meio. Não tinha sequer terminado o colegial. Mesmo assim, o incentivei a fazer supletivo, paguei a matrícula, me ofereci para estudar com ele. Era quase um parasita que paralisava minha vida, sugava minhas energias, meu amor, sem dar nada em troca. É claro que, na época, eu não percebia nada disso. Achava que ele me amava demais. Na verdade, imaginava que nenhum outro homem poderia me amar tanto, tão baixa era a minha autoestima. Até o dia em que me obrigou a transar, mesmo eu dizendo que sentia dor — estava com uma infecção urinária fortíssima e o médico havia recomendando não ter relações sexuais por um tempo. Parece que comecei a perceber que o que eu achava que era machismo era, na verdade, sadismo. Não se preocupava com o meu bem-estar. A ficha foi caindo aos poucos, eu tinha medo de ficar sozinha, me sentia culpada de deixar um homem que me amava tanto. Mas parece que aquela noite em que ele quis transar à força me fez perceber que havia chegado ao limite. É claro que não foi fácil assim me livrar dele. Depois que terminei tudo ele passou a ligar para minha melhor amiga, para o meu cunhado e até para o meu pai se fazendo de coitado. Mas um dia explodiu, me ameaçou. Disse que era para eu ficar esperta, porque ele ia me pegar na faculdade e me matar. Disse que se não fosse dele, não seria de ninguém. Então meu pai me levou à delegacia da mulher, onde registramos queixa e a delegada me orientou a gravar as ligações, as ameaças, e avisar que estavam sendo gravadas. Consegui também uma ordem que o obrigava a se manter no mínimo 200 metros distante de mim. Meses depois, ele sumiu. Hoje, olhando para trás, vejo que me sentia culpada de terminar o relacionamento mesmo sabendo que me fazia mal. Me sentia culpada de fazê-lo sofrer porque eu realmente o amava. Não sei dizer se o que ele sentia por mim também era amor. Não consigo saber até hoje o que era. Na verdade, acho que ele não sabe o que é amor.”

2 comentários:

  1. o misogino ele e pereigoso quando passa para a gressão fisica?

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  2. Sim Maria Souza, muito perigoso, cruel e sem escrúpulos...

    ResponderExcluir

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