sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Traição - Infidelidade

Motivos vão desde auto-afirmação até vingança
* Entrevista com Dra Olga Inês Tessari Ele passa a maior parte do tempo livre em reuniões com os amigos, dizendo que vai trabalhar até mais tarde. Quando chega a fatura do cartão de crédito, trata de pegá-la rapidinho para esconder gastos com telefonemas do celular ou de restaurantes, motéis e presentes. O celular toca e ele se assusta, ou tenta ficar sozinho para atendê-lo. Atitudes como essas podem representar sinais de infidelidade, de acordo com a psicóloga Olga Tessari, de São Paulo. Terapeuta de casais, entre outras especialidades, Olga cita outros comportamentos suspeitos: “O (a) parceiro (a) mostra mais interesse em comprar roupas novas, ou há momentos em que se arruma melhor ao sair de casa para fazer coisas banais, como ‘tomar um ar’; a pessoa tem se irritado mais ou fica estressada com facilidade; o apetite sexual mudou: está sempre ocupada ou cansada demais para o parceiro, ou então, de uma hora para outra, quer fazer sexo a todo instante, com medo de que ele perceba que existe outra pessoa”. Uma pesquisa do Instituto Datafolha divulgada em outubro de 2007 indicou que 34% dos homens e 8% das mulheres já traíram o parceiro atual. Foram ouvidas 2.093 pessoas em 211 municípios brasileiros. Outro estudo, realizado entre 2002 e 2003 pelo Projeto Sexualidade (Pro-Sex), do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, revelou números ainda maiores: a infidelidade masculina foi admitida por 50,6% dos entrevistados, e a feminina, por 25,7%. “No caso dos homens, há uma questão cultural muito grande. Além do mito de que o homem precisa ter mais experiências ou tem mais desejo sexual, ele se sente bem-avaliado pelos amigos ao contar casos extraconjugais. Em relação às mulheres, ocorreu uma mudança: elas estão traindo mais. Muitas vezes, a infidelidade acontece quando a mulher está insatisfeita afetiva e sexualmente. Então, elas buscam experiências com outros parceiros”, diz a psicóloga Arlete Gavranic, coordenadora dos cursos de pós-graduação em educação e terapia sexual do ISEXP (Instituto Brasileiro Interdisciplinar de Sexologia e Medicina Psicossomática) de São Caetano. A especialista ressalta que, em muitos casos, a mulher é motivada por um sentimento de vingança. “De acordo com a pesquisa do Hospital das Clínicas, cerca de metade das entrevistadas trai para se vingar da infidelidade do parceiro. Muitas vezes, isso serve para a mulher se auto-afirmar e reconstruir a auto-estima”. Segundo Arlete, no entanto, a educação recebida ainda faz com que grande parte delas se sinta culpada. “Ambos traem, mas a mulher oculta mais do que o homem porque a sociedade ainda não aceita tão bem a traição feminina quanto a masculina. Ela é quem perdoa mais facilmente, adotando a postura da ‘mãe compreensiva’, depois de muito sofrimento ao fazer-se de vítima. O homem tem mais dificuldade de perdoar porque se sente na obrigação de tomar uma atitude perante a sociedade, não necessariamente a melhor para si mesmo”, explica Olga Tessari. “Homens e mulheres encaram a infidelidade de forma diferente: eles do ponto de vista da sexualidade, elas, da forma afetiva. Para o brasileiro, que ainda é machista, é muito difícil saber que sua mulher fez sexo com outro homem que não ele. Em geral, eles partem para a separação, embora existam até os que aceitem melhor. Mas, normalmente, os homens fazem o possível para fingir que não sabem. Caso contrário, terão que tomar uma atitude perante a sociedade”, opina Olga Tessari. As principais conseqüências da traição são a quebra do vínculo de confiança entre o casal e a desestruturação na referência de vida, especialmente quando a relação tem vários anos. “Mexe com a auto-estima, principalmente das mulheres. Ela vai pensar coisas do tipo: ‘é porque estou feia, porque envelheci ou engordei?’. As comparações com o que o outro foi buscar fora do relacionamento são inevitáveis”, afirma a especialista.“Vamos encontrar mulheres jovens, bonitas e ótimas profissionais que, ao sofrerem uma traição, esquecem de quem são. As mulheres ainda são educadas dentro do mito do amor romântico. Muitas só dão significado a suas vidas quando encontram uma pessoa. Ao serem traídas, perdem a própria referência. Essas pessoas precisam de ajuda terapêutica para reaprenderem a olhar para si mesmas e a se enxergarem como mulheres”, recomenda a psicóloga. Traídos e traidores Para Olga Tessari, os motivos para uma traição são os mais diversos: “Rotina, falta de atenção, questões culturais, a busca pelo novo, carências, insatisfação, vingança. Também ocorre quando um dos dois não vê satisfeitos os seus desejos ou suas expectativas com o (a) parceiro (a), ou quando não há mais diálogo entre o casal. Existe ainda uma procura pela sensação de perigo ou mesmo de poder”. “Traí porque não gostava deles. Na época, achava que tanto fazia estar com aquelas pessoas ou não, e era muito gostosa a aventura”, assume a autônoma M.A.B., 33, moradora de Santo André. Ela traiu alguns namorados e o ex-noivo há 12 anos. “Algumas pessoas souberam por mim mesma. A única pessoa que eu não contei foi para meu noivo. Mas foi pior, porque eu terminei a relação e ele acabou descobrindo na mesma semana, quando me viu com o cara com quem eu estava traindo”, revela. M.A.B. se arrepende apenas de ter sido infiel com o ex-noivo. “Com algumas pessoas eu faria tudo novamente, porque não deveria nem ter começado o namoro. No caso do meu ex-noivo, me arrependi muito, porque ele era um cara legal, gostava de mim e me dava valor. Acabei trocando-o por alguém que não valeu a pena. Se o encontrasse novamente, pediria desculpas. Ele não me perdoou, mas se eu pudesse teria reatado, porque era uma pessoa muito especial e tenho quase certeza que se estivesse com ele, estaria vivendo bem”. Porém, a autônoma diz que provavelmente não conseguiria perdoar se fosse vítima: “Depende. Se não gostasse dele, seria uma desculpa para terminar. Mas também, se eu gostasse, ficaria muito brava e talvez não o perdoasse”. O consultor de empresas M.T.A., 27, de São Bernardo, viveu o outro lado da situação. Ele não tem certeza absoluta se foi traído pela ex-namorada, mas a suposta infidelidade quase acabou com uma amizade de infância. “Estava curtindo ficar com ela, e parecia que era correspondido. Nós saíamos com meus amigos e íamos para vários lugares, como bares, casamentos e festas. Depois de um tempo, ela me contou que estava a fim do meu melhor amigo. Não sei dizer se houve traição de fato, mas me senti muito mal, pois estava realmente gostando dela. É difícil ouvir de uma namorada que ela está gostando de outro. Pior ainda quando se trata de seu melhor amigo”, desabafa. M.T.A. se sentiu duplamente traído. “Poderia ter sido mais fácil aceitar a infidelidade dela se não fosse com meu amigo”. Segundo o consultor, a amizade ficou abalada. “Contei o que minha ex havia me dito e conversamos sobre a situação. Parecia que tudo estava resolvido, mas depois ele veio me perguntar se haveria problema em sair com ela. Disse que não, mas no fundo fiquei bastante chateado. Se estivesse no lugar dele, não faria isso. É aquele negócio, o que eu não quero pra mim, não quero para o outro”. Apesar de tudo, a história teve um final feliz. “Depois de uma semana, meu amigo me ligou muito desconfiado, me convidando para tomar cerveja. Aceitei, e quando nos encontramos, ele achou até que eu iria bater nele, mas tivemos uma boa conversa e tudo ficou resolvido. Nós tínhamos uma amizade desde crianças, que não poderia ser perdida por uma mulher que não ficou nem comigo, nem com ele”, diz M.T.A. Sete anos depois, o consultor afirma ter superado o assunto. Atualmente, ele namora outra pessoa, com quem planeja se casar. “Acredito que o que aconteceu foi um caso à parte e, infelizmente, pode acontecer com qualquer pessoa. Acho que um relacionamento sem confiança não dá certo”. Esquecendo a traição “Depende de cada casal. Muitos buscam um reencontro na terapia, que não necessariamente irá resgatar a relação, mas pode ajudar os dois a uma separação sem mágoas e agressões”, explica Olga Tessari. Mas a terapeuta diz que é possível continuar juntos: “O parceiro infiel deve ter consciência de que a desconfiança e o ciúme são preços que terá que pagar pelo deslize. A pessoa tende a ter um controle maior sobre o parceiro que traiu. Quem foi vítima carrega a sensação de que deixou a infidelidade acontecer. Mas, se tiver vontade de resgatar esse vínculo, deve se comprometer com isso”. A psicóloga Olga Tessari aconselha a pessoa traída a avaliar seu comportamento e verificar se de alguma forma colaborou para que a situação ocorresse. “Se ela quer manter o relacionamento, deve entender que tem uma parcela de culpa e não apenas se fazer de vítima. Caso escolha continuar e não consiga perdoar, ela precisa de acompanhamento psicológico para isso, pois suas atitudes podem contribuir para a separação. Ela deve recomeçar sem ficar remoendo a traição. Em outras palavras, virar a página junto com o traidor. A partir do momento em que ambos desejam prosseguir juntos, devem colocar um ponto final nessa história e enterrá-la definitivamente”.

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