quinta-feira, 27 de outubro de 2011

As doenças somáticas e os estados emocionais

As doenças somáticas e os estados emocionais

"O órgão ou função mais sensível e/ ou fragilizado, externa em sinais e sintomas, o comprometimento do todo".

A partir década de 40, levantamentos epidemiológicos tem constatado o aumento da incidência de patologias somáticas entre indivíduos que apresentam estados depressivos. Tal fato causou aumento nas pesquisas das relações existentes entre as emoções e o corpo físico.

Por exemplo, qual é o ponto de não retorno em que as emoções poderiam afetar o sistema imunológico e desidentificar estruturas e mecanismos de natureza celular, fisiológica e anatômica que, alterados por essas emoções, mediarem de forma equivocada a percepção dos eventos internos e externos, sua elaboração e as reações do organismo.(Mammoli,M 2000). Essas pesquisas reforçaram a hipótese de que fatores psicológicos sociais, espirituais e conjunturais podem ser um dos fatores ou gatilhos de doenças graves como o câncer (Volich, 1998).

Mammoli,M. (2000) e Bécache (2006) afirmam que as dificuldades em circunscrever o campo psicossomático são multifatoriais e multidimensionais, pois reduzir as causas das doenças à dualidade corpo-espirito ou corpo-mente é admitir que a etiologia (a causalidade) das doenças são lineares, o que certamente não o são. Acrescentaríamos, ainda, a dificuldade de não perdermos de vista as unidades psicossomáticas do homem, doente ou não.

A doença se manifestaria ,através de órgãos ou funções susceptíveis, pela maneira que o indivíduo administra seus conflitos.

Seja com seu mundo exterior, com seu mundo intrapsíquico ou ambos, podendo ser ainda sequenciais ou associados. Esses conflitos provocam manifestações somáticas, psíquicas ou de ambos os tipos, em proporção variável, pois dependem de cada individuo e de suas possibilidades e potencial genéticos, além da situação conjuntural.Se quisermos compreender os sinais e sintomas em sua etiologia,sua patogenia e fisiopatologia; ou seja em sua causa, modo de ação e desenvolvimento; precisamos renunciar ao esquema classico que afirma que a origem dos transtornos funcionais se deve apena s a uma lesão tissular.Devemos considerar a lesão como consequencia da administração individual dos transtornos psiquicos - funcionais.O que leva o individuo até a doença se reveste ,para esse individuo,de uma importancia ímpar,pois ela está ligada ou ao seu passado ,ou a uma situação conjuntural cujos conflitos não estão afetivamente e emocionalmente resolvidos.É em função desses vinculos,que ela tem para ele,um efeito de estresse potencialmentedesequilibrador (Bècache 2006).

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.Portanto a doença:

• Cria sistemas de interação, de comunicação externa, internas ou ambas.

• Desvenda a fragilidade humana

• É impedimento existencial, no estar, no desempenhar.

• Evoca a imortalidade e a mortalidade.

• Afeta pessoas diretamente ligadas ao paciente.

• Atua sobre o inconsciente coletivo.

E repercute no modus vivendi e modus operandi específicos ou não do paciente, pois o mesmo terá que aprender a ver e viver em seu mundo através da doença.

Procuro fazer observações aos pacientes quanto a maneira de se perceber doente. Explico que essa percepção pode dar-se em três vias ou níveis:

· Nível intra-orgânico

É o olhar a si próprio e criando comparações ,inevitáveis ,de suas alterações orgânicas; sempre utilizando a sua lógica pessoal. De inicio,comparações das alterações físicas e posteriormente emocionais. Antes, durante e após o processo diagnóstico.



· Nível intra-subjetivo

É o olhar auto interpretativo,ou a auto interpretação, da própria doença pelo paciente com os recursos conjunturais de que dispõe; mas com a doença já diagnosticada e ir descobrindo seus novos limites, perdas e ganhos. É a percepção dessas manifestações, por vezes de forma sutil, da doença em seu corpo e em seu espírito que vão ocorrendo em seu comportamento diário.



· Nível intersubjetivo

É olhar o mundo ao seu redor através da óptica da doença, mas agora como doente. É como sua nova visão de vida e da vida, seus conceitos, mudanças, expectativas e planos se desenvolvem em relação aos outros, com seu meio e com o mundo.



Portanto a doença, ameaça à integridade narcísica alterando a percepção dos limites físicos, afetivos, emocionais, espirituais e materiais da vida e do viver, tais como: a integridade estética, dos desempenhos profissionais, intelectuais e sexuais, da capacidade de sedução, do controle das situações, etc.

Além disso gera o estresse da ansiedade da separação das pessoas, dos objetos, dos hábitos, da fé, dos costumes e cultura.

Sendo assim acentua o desamor, o abandono e os medos:

· De perder o "poder pessoal", de necessitar de auxilio em qualquer nível, das limitações em todos os sentidos.

· De perder segmentos do corpo, da dor, das mutilações e do conhecimento real da situação.

· De uma possível retaliação divina, do castigo, da sacralização voluntária ou involuntária de seu sofrimento, da vulnerabilidade.

· Da perda da privacidade, de ser invadido, da redução real ou imaginária da sua autonomia.

Esses sentimentos e emoções levam, consequentemente, à depressão e a baixa auto-estima, que se retroalimentam continuamente.

De acordo com Lacan e Reich, entre outros ,o corpo não é simplesmente um contorno ou recorte de substância extensa e material como postulada por Descartes no Discurso do Método, pois, o que foge à ciência clássica dos métodos e dos controles é que o corpo humano é também um corpo feito para as sensações de gozo e para o prazer.

O doente ao procurar ajuda pode não esperar pura e simplesmente uma cura; ele pode estar desafiando o curador a removê-lo da condição de doente ou não(que ele pode, na verdade desejar permanecer). Às vezes o doente quer apenas se sentir mais bem acomodado e compreendido na sua doença, e se frustra, pois no processo terapêutico tradicional, enquanto fala de seu corpo e suas manifestações o curador quase sempre se restringe a interessar-se pelo organismo.

A psicossomática busca unir esses discursos facilitando o entendimento e autoconhecimento ao paciente de "si próprio" doente. Curar, agora, significa dar um lugar e um sentido aos sintomas. É poder dar um lugar e sentido aos desejos que estão cobertos e disfarçados pelos sintomas.

Na clinica médica, o desejo de cura se sustenta sobre os conceitos de normal e anormal, fisiológico e patológico, que podem ser confundidos com o conceito de bem e o mal.

Na clinica psicossomática procuramos eliminar qualquer juízo de valor.

Alguns autores como Shiller (2000) relatam que a psicossomática "é o receptáculo dos restos incompreendidos da medicina", e que as descobertas dos genes que causam o câncer, a esquizofrenia, a depressão, etc. são uma prova de que há mais fundos moleculares do que emocionais.

Apesar de ser tranquilizadora para alguns , é uma observação perigosamente reducionista. Seria saudável observar e refletir que a descoberta de genes que pré dispõem ao câncer, ou a depressão ou a esquizofrenia entre outras patologias, não explicam de forma satisfatória ou até definitiva tais patologias, apenas agregam mais dados ao universo de gatilhos que as podem disparar. Uma possibilidade que para alguns pode ser absolutamente aterradora, justificando inconscientemente a necessidade desse pensar reducionista.

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