sábado, 30 de julho de 2011

Dependência Emocional a Perda da Identidade!

Dependência emocional:
a perda da identidade!
Silvia Regina Dias - Psicóloga Clínica


Algumas pessoas dedicam quase que integralmente a própria vida em função de outra e não percebem que a dedicação exagerada pode ser considerada uma fuga de si mesmo. Esta disponibilidade ilimitada em ajudar não é um movimento saudável de troca, mas uma forma doentia, mórbida, castradora de tentar manter o controle sobre o outro, ao mesmo tempo em que se sentem valorizadas.

Amor familiar: Amar não é errado! O amor apazigua e tranqüiliza, proporcionando uma entrega solta! O problema é quando a intensidade do amor ultrapassa o limite da individualidade.

O primeiro sentimento de afeto que o ser humano experimenta é através da mãe que tem os devidos cuidados para que o bebê nasça em condições saudáveis. Este afeto é transmitido pele a pele no momento do nascimento e dá segurança e sensação confortável ao bebê. A relação de afeto se fortalece no dia a dia através do convívio familiar e é a base da nossa aprendizagem. A família é para nós fonte de saúde e (ou) doença, pois através da família aprendemos ser o que somos acreditar no que acreditamos e relacionar como relacionamos.

É com a família que aprendemos o significado dos bons costumes, da moral, da ética; assim como também aprendemos a respeitar as pessoas e a nos respeitar como pessoa. Aprendemos o sentido de confiança, honestidade, segurança.

É função dos pais modelar o comportamento dos filhos a partir de suas próprias experiências, sempre com diálogo, dando limites, incentivando a enfrentar a vida com coragem e sabedoria, acolher, educar e ensinar.

Quando o pai exerce a função de pai, a mãe exerce a função de mãe e o filho exerce a função de filho consideramos que esta seja uma família funcional. Funcional porque há um sistema em funcionamento, sem troca de papéis. Quando há harmonia, diálogo e respeito dentro de casa a criança desenvolve e aprende a ter uma relação emocionalmente saudável o que a tornará um adulto amadurecido, pronto para enfrentar as dificuldades da vida.

Mas isto sempre acontece? E quando a família não funciona?

Família Disfuncional: Podemos exemplificar dois tipos de funcionamento inadequado na família. Primeiro, imaginemos um pai ou uma mãe (ou ambos) com características superprotetoras, não deixando o filho crescer emocionalmente e não o deixando ter frustrações naturais da vida. Aquela mãe (ou pai, ou ambos) que sufoca, prende, determina, escolhe o que considera ser o melhor para seu filho, mesmo quando este já está adulto, sem se preocupar com a sua real necessidade. Este sistema familiar gera um adulto dependente e inseguro diante da própria vida. Inseguro pelo excesso de amor...

Agora, podemos imaginar uma outra família, onde o pai (ou a mãe ou ambos) não oferece a criança o afeto parental. A criança é rejeitada por um dos pais ou ambos, é ignorada e cresce sem ter os ensinamentos adequados ao enfrentamento da vida (com dificuldades de expressão afetiva, sem vínculos, sem limites, etc.). A dinâmica desta família gera um adulto que podemos nomear "antidependente". Não tendo o apoio necessário de seus cuidadores apresenta carência afetiva muito grande, mas supre esta falta com um comportamento auto-suficiente.

Nos dois casos há uma dependência emocional afetiva: um pelo excesso de amor, outro pela falta. Nos dois casos há uma procura constante por algo que considera estar faltando, um vazio interior.

Na falta de liberdade (sufoco, aprisionamento) ou no excesso de liberdade (desleixo, desinteresse) em muitos casos o que se procura, encontra-se no consumo excessivo de álcool e ou substâncias químicas ilícitas, em compulsões (como as compulsões alimentares), em restrições excessivas de alimentos e todo tipo de vício, que são utilizados como amortecedores daquilo que não se consegue enfrentar.

Tanto na família saudável, quanto nas famílias disfuncionais o comportamento é aprendido de geração em geração (os comportamentos saudáveis assim como comportamentos inadequados) através da observação, da fala, das atitudes dos membros familiares. Iniciando pelos avós, que ensinaram os pais, que ensinaram os filhos e assim por diante. É o que se chama de padrão trigeracional (análise do funcionamento das três gerações de uma família).

O mundo externo tem influência no ambiente familiar e uma família saudável pode prevenir e ou reverter uma situação de dependência de susbstâncias psicotrópicas com mais ênfase, pois os pais estão atentos ao comportamento do filho.

Já em uma família disfuncional os pais não conseguem ver claramente o que ocorre, pois um ou ambos os pais são desequilibrados, frustrados, carecendo de uma visão realista do mundo, com auto-imagem distorcida, imaturos. Às vezes ocorre que um ou ambos os pais são adictos de álcool, drogas, trabalho, apresentam apetites descontrolados (comedores compulsivos) ou restrições rígidas no comportamento alimentar, consumidos pela raiva, pela dependência e compulsivos a respeito de coisas que são casuais para pessoas saudáveis.

Nas famílias disfuncionais os filhos crescem tendo raramente aprendido as combinações de papéis que contribuem para moldar personalidades saudáveis. Não tendo vivenciado estas combinações de papéis, necessitam criar outros papéis que trazem alguma estabilidade em suas vidas.

Co-dependência: A co-dependência é um termo cientificamente utilizado para definir uma pessoa que pensa, sente e decide que precisa de outra pessoa para construir sua auto-estima.

É designada como síndrome de imaturidade, causada por várias formas de abuso infantil (verbal, físico, sexual, emocional, intelectual, espiritual). Em virtude de experiências disfuncionais na infância, o adulto não possui maturidade, refletindo na área de relacionamento consigo e no relacionamento com o outro.

A co-dependência se instala nas pessoas que convivem com a situação disfuncional ou com a pessoa problema. Está presente em algum membro ou vários membros desta família disfuncional.

O co-dependente é uma pessoa que se encontra amarrada emocionalmente a coisas negativas ou patológicas de alguém que o rodeia (esposo, filho, parente, companheiro de trabalho, etc.) e devido a essas amarras emocionais passa a ser quase um outro dependente (da pessoa problemática). Esta pessoa co-dependente tenta controlar o uso de álcool e/ou outras drogas ou quaisquer comportamentos do dependente na esperança de ajudá-lo. Normalmente encontra-se numa situação de infelicidade e preocupação, se ocupando mais em resolver a doença do outro sem perceber que deveria cuidar de si mesmo.

Na co-dependência há um conjunto de comportamentos e pensamentos patológicos que, além de compulsivos, produzem sofrimento. Existe o desejo real de ser o salvador, protetor ou consertador da outra pessoa, mesmo que para isso ele esteja comprovadamente prejudicando e agravando o problema do outro. No relacionamento de co-dependência não existe a discussão direta dos problemas; não existe expressão aberta dos sentimentos e pensamentos; não existe a comunicação honesta e franca, expectativas realistas; não existe a individualidade, confiança nos outros e em si mesmo. Também tem raiva quando sua ajuda não é suficiente, pois antecipa as necessidades das outras pessoas sem o prévio conhecimento ou pedido de ajuda.

Sempre diz sim quando quer dizer não. Sente-se inseguro e culpado quando alguém lhe dá alguma coisa e abandona a rotina para responder ou fazer algo por outro, sem culpa. Ao mesmo tempo, culpa as pessoas pela situação em que ele mesmo está e que ele mesmo permitiu.

Portanto, um co-dependente não tem a habilidade de manter e nutrir relacionamentos saudáveis com os outros e consigo mesmo, pois nutre inconscientemente os sentimentos de culpa, raiva, vitimização, desvalorização, inferioridade, incapacidade.

Processo de reabilitação: O alcoolismo, o uso de drogas e outras dependências é uma doença que afeta não apenas o dependente, mas também toda a família. O tratamento da co-dependência pode consistir de psicoterapia individual, terapia familiar e em alguns casos, antidepressivos e ansiolíticos.

Os grupos de apoio e ajuda para familiares de dependentes, Al-anon e Co-dependentes Anônimos – CODA, são de grande utilidade no processo de recuperação familiar da co-dependência, porém não substituem um acompanhamento psicológico adequado.

Hoje se sabe que o relacionamento com pessoas perturbadas, carentes, doentes, deprimidas e dependentes pode gerar a co-dependência. É uma doença crônica, progressiva, sutil.

Ao iniciar o tratamento com o psicólogo especializado o co-dependente aprenderá a perceber e reconhecer os sintomas na própria vida; aceitar que a recuperação não está na outra pessoa e sim nele próprio; recuperar o amor-próprio, auto-aceitação, viver a própria vida, sentir suas próprias emoções, estabelecer objetivos concretos, comprometer-se com a mudança e desenvolver seu lado espiritual por meio da prática diária.


Fonte:http://www.srdpsicologia.com.br/

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